Pandemia

Auxílio emergencial será prorrogado, mas oposição considera valor total insuficiente

Bolsonaro e Guedes propõem mais R$ 1.200 para a população carente. Oposição defende que pagamento seja feito pelo menos até final do ano

Leonardo Sá/Agência Senado
Leonardo Sá/Agência Senado
Valores maiores e por mais tempo ajudariam a minimizar a grave crise econômica brasileira

São Paulo – O auxílio emergencial será prorrogado, em um total de R$ 1.200. Ainda não é oficial como esse valor será pago, se em duas parcelas de R$ 600 ou com uma “aterrissagem inteligente”, expressão usada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, para defender o pagamento do valor total ao longo de dois meses, mas de forma escalonada, em quatro vezes.

A informação foi antecipada pelo próprio Guedes, no Palácio do Planalto, onde o presidente Jair Bolsonaro assinou o decreto com este fim. Desde o início das discussões no Congresso Nacional, o governo vem sendo derrotado na questão do benefício instituído pelo Parlamento e sancionado em maio pelo chefe do Executivo.

Nas discussões sobre o projeto debatido no Congresso, ainda no início da pandemia de coronavírus, o governo defendeu o valor de R$ 200, mas foi derrotado por pressão da oposição, após negociações com os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Na discussão da extensão do benefício, o Executivo começou jogando um balão de ensaio, propondo parcelas de R$ 300. Depois, admitiu três parcelas em valores decrescentes, de R$ 500, R$ 400 e R$ 300. O governo cedeu e saiu parcialmente derrotado por temer desgastes no Congresso e na sociedade. Mas a proposta aceita por Bolsonaro e Guedes é muito inferior ao pretendido pela oposição, para a qual a ajuda deveria se estender, no mínimo, até o fim do ano.

Para o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), Bolsonaro e seu governo passaram a falar em prorrogação do auxílio emergencial em mais duas prestações de R$ 600,00 “em função das pressões e do desgaste”. O parlamentar acrescentou, em sua página no Twitter: “Nós queremos a prorrogação até o final do ano”.

“Tem gente que ainda nem recebeu a primeira parcela do auxílio emergencial, e Jair Bolsonaro anunciando que vai pagar por mais 2 meses apenas. Como se a crise fosse acabar num passe de mágica até setembro. É um deboche. Nossa proposta é pagar os R$ 600 pelo menos até dezembro”, escreveu, na mesma rede, o deputado Marcelo Freixo (Psol-RJ).

Crise generalizada

A defesa de um benefício mais robusto se dá não apenas pela necessidade extrema da população mais carente, a mais afetada pela pandemia de covid-19, mas também pelo potencial que o dinheiro injetado tem de minimizar a crise econômica.

Apenas em maio, o país perdeu 331.901 vagas com carteira assinada de acordo com o “novo” Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado nesta segunda-feira (29).

Para o senador Rogério Carvalho (PT-SE), por exempo, como famílias e beneficiários gastam, em vez de poupar, esse dinheiro volta rapidamente para a economia, gerando demanda, receita para os cofres públicos – principalmente os pequenos municípios – e, consequentemente, mais produção.

“Não tem como a economia se recuperar sem incentivos ao funcionamento do mercado interno”, disse o petista. A intenção da legenda era manter os R$ 600 “por pelo menos um ano”.

As previsões sobre o desempenho da economia brasileira em 2020, que já eram ruins antes da pandemia, entraram num cenário dramático e não param de piorar. Na semana passada, o Fundo Monetário Internacional (FMI) projetou queda de 9,1% no Produto Interno Bruto (PIB) do país para 2020. Caso seja confirmado, esta será a maior queda do índice em 120 anos. 

No pós-pandemia, horizonte ainda distante, as perspectivas são preocupantes. “Muito provavelmente vão querer vender boa parte do patrimônio do Estado e reduzir gastos”, disse, por exemplo, o diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Júnior, à Rádio Brasil Atual na semana passada.

“Não há possibilidade da gente sair de uma crise tão grande sem de fato um investimento muito forte do Estado”, acrescentou.

Redação: Eduardo Maretti – Edição: Fábio M. Michel