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Com fábricas fechadas por Temer e Bolsonaro, Brasil pode ficar sem fertilizantes da Rússia

Presidente chegou a dizer que, depois de seu encontro com empresários do setor na Rússia, a oferta de fertilizantes iria “ser dobrada”. Lula rebate ministra da Agricultura: “Foram os governos Temer e Bolsonaro que erraram”

Reprodução/Youtube
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Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, falou do problema dos fertilizantes na live semanal de Bolsonaro

São Paulo – O governo da Rússia recomendou, na tarde desta sexta-feira (4), no horário de Brasília, que os fabricantes de fertilizantes agrícolas do país suspendam as exportações dos seus produtos. A medida seria tanto uma reação contra as sanções impostas ao país pelo Ocidente, liderado pelos Estados Unidos, como também por dificuldades logísticas, afetadas pelas medidas restritivas.

“O ministério teve que recomendar aos produtores russos que suspendam temporariamente os embarques de exportação de fertilizantes até que as transportadoras retomem o trabalho rítmico e forneçam garantias de que as exportações serão totalmente concluídas”, disse o Ministério do Comércio e Indústria da Rússia.

A suspensão é muito ruim para o Brasil e péssima para Jair Bolsonaro. O país importa 85% dos fertilizantes agrícolas de que precisa. Do total importado, 23% vêm da Rússia. No mês passado, o presidente brasileiro viajou àquele país, onde se encontrou com o presidente Vladimir Putin. Segundo o governo brasileiro, a principal justificativa para a viagem foi incentivar o aumento dos negócios entre os produtores rurais do país com fabricantes de fertilizante russos.

“Não temos como pagar”

Bolsonaro chegou a dizer que, depois de seu encontro com empresários do setor na Rússia, a oferta de fertilizantes iria “ser dobrada”. Mas a realidade não deve confirmar a expectativa. Nesta quinta (3), a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, se antecipou à informação de Moscou e disse que a importação de fertilizantes da Rússia seria suspensa “porque não temos como pagar esses produtos, nem navios para carregar”. Segundo ela, “enquanto houver guerra, é totalmente descartada a possibilidade de receber fertilizantes”. Ainda de acordo com a ministra de Bolsonaro, o país tem estoque destes insumos garantido até outubro.

Na quarta (2), o governo da Bielorrússia, aliada da Rússia, anunciou a suspensão da venda de fertilizantes agrícolas ao Brasil, alegando bloqueio da rota de escoação do produto imposto pela vizinha Lituânia. Segundo a embaixada bielorussa em Brasília, os seus fertilizantes representam 20% do mercado brasileiro.

No mesmo dia, a ministra de Bolsonaro disse que “o Brasil” errou ao fechar fábricas do sistema Petrobras responsáveis pela produção de amônia e fertilizantes nitrogenados a partir de gás natural. “Por que tomamos lá no passado a decisão equivocada de não produzir fertilizantes?”, questionou, em entrevista coletiva. “No passado, a decisão era de importar pois era mais barato. Mas o Brasil precisa tratar esse assunto como segurança nacional e segurança alimentar”, acrescentou.

Porém, também nesta sexta, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu a fala de Tereza Cristina. Ele enfatizou não ter sido exatamente “o Brasil” que fechou as fábricas de fertilizantes. “Foram os governos de Temer e Bolsonaro que erraram, não o Brasil, fechando fábricas de fertilizantes na Bahia, em Sergipe e no Paraná”.

De Temer a Bolsonaro

A decisão de acabar com a produção nacional de fertilizantes pela Petrobras partiu do governo Michel Temer (2016-2018). A alegação foi de que “não dava lucro”. Primeiro foi atingida as fábrica de nitrogenados da Bahia (Fafen-BA), no polo petroquímico de Camaçari. A unidade foi inaugurada em 1971. Em seguida foi fechada a unidade de Sergipe (Fafen-SE), em Laranjeiras, que começou a operar em 1982 (leia no Brasil de Fato). Ambas deixaram de servir ao interesse público brasileiro em 2018

Já sob o governo de Jair Bolsonaro, em fevereiro de 2020 foi fechada também a planta de hidrogenados do Paraná (Fafen-PR), em Araucária.

Na quarta-feira, o presidente brasileiro sugeriu que a superação do problema da falta de fertilizantes poderia se dar pela mineração em terras indígenas. “Em 2016, como deputado, discursei sobre nossa dependência do potássio da Rússia. Citei três problemas: ambiental, indígena e a quem pertencia o direito exploratório na foz do Rio Madeira “, escreveu Bolsonaro no Twitter.