No Brasil

Guerra ameaça importação de fertilizantes da Rússia e produção de alimentos no Brasil

Ausência de estratégia do governo federal fechou produções da Petrobras e tornou o Brasil dependente da Rússia

Fernando Frazão/EBC
Fernando Frazão/EBC
Solução para evitar a escassez de fertilizantes começa pela retomada das atividades das fábricas da Petrobras, responsáveis pela produção do insumo, explica a FUP

São Paulo – As sanções impostas à Rússia pelas nações do Ocidente ameaçam a importação de fertilizantes pelo Brasil e a produção de alimentos. De acordo com dados da Federação Única dos Petroleiros (FUP), o país importa 85% dos insumos utilizados em território nacional, principalmente da Rússia. A dependência da importação para suprir o mercado doméstico deixa vulnerável o país, que é o quarto maior produtor de grãos do mundo e o segundo entre os exportadores. 

Segundo números da Secretaria de Comércio Exterior analisados pela área econômica da FUP, em 2021 o Brasil gastou US$ 15,2 bilhões em importações de adubos e fertilizantes químicos. O valor é 90% maior do que o gasto em 2020. Foram 41,5 milhões de toneladas de fertilizantes adquiridas pelo Brasil no exterior a um valor 56% acima do que foi pago no ano retrasado. 

E os bloqueios que a Rússia tem sofrido, devido à guerra contra a Ucrânia, devem dificultar o acesso do Brasil aos insumos para fertilizantes do país. O que ameaça a produção nacional de alimentos, conforme afirma o diretor da FUP Gerson Castellano. “A Rússia vendia para o Brasil, mas também para a Europa e outros países que vão precisar de fertilizantes de outros lugares também. Então aquele fertilizante que já estava caro, mas tinha, vai ter uma competição muito maior. Desse modo, o preço vai subir muito. Ou seja, quem está no agronegócio, que vende commodities, vai repassar os preços simplesmente. E vamos ter uma grande inflação, porque, por falta de estratégia, o governo federal fez com que a Petrobras virasse uma empresa apenas de mercado e para dar lucro aos acionistas”, critica. 

Petrobras e desinvestimento

De acordo com a FUP, o principal fator que levou o país ao patamar de dependência do mercado exterior foi um plano anunciado pelo governo de Michel Temer (MDB) em setembro de 2016, de retirada da Petrobras da produção de insumos. Em 2018, as fábricas de fertilizantes nitrogenados da Bahia e de Sergipe foram hibernadas. Em seguida, o processo que teve continuidade com o governo de Jair Bolsonaro (PL). Dois anos depois, elas foram arrendadas à Proquigel, subsidiária da Unigel, de capital fechado. 

Em março de 2020, a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen) do Paraná fechou as portas. A unidade era responsável pela produção de 30% do mercado brasileiro de ureia e amônia. E 65% de um aditivo usado em veículos de grande porte para a redução de emissões atmosféricas. Mais recentemente, no mês passado, o grupo russo Acron comprou a unidade de produção de fertilizantes da Petrobras em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul. Segundo o diretor da FUP, a solução para evitar a escassez de fertilizantes começaria, portanto, pela retomada das atividades das fábricas da Petrobras, responsáveis pela produção do insumo.

“Por uma opção de mercado apenas a gestão da Petrobras alinhada com os golpistas, como Temer e Bolsonaro, achou por bem sair desse mercado de fertilizante. E agora estamos pagando por isso, seja nessa guerra ou em outras que podem vir a ocorrer. Nós poderíamos fazer com que as unidades da Petrobras de fertilizantes nitrogenados voltasse a produzir para abastecer o mercado local. Poderíamos fazer com que a Unidade (de Industrialização) do Xisto, que tem no Paraná, ficasse na Petrobras e fosse usado como fertilizante. E que nós pudéssemos também incentivar, de forma controlada e responsável, a questão dos fertilizantes minerais. Isso é um plano estratégico, de soberania que infelizmente esse governo não tem”, ressalta Castellano. 

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