GUERRA

Rússia quer que EUA se sente à mesa e reconheça sua força mundial, diz professor

Professor Giorgio Romano diz que Putin deverá trabalhar para deposição do governo ucraniano

Jernej Furman/Flickr
Jernej Furman/Flickr
Giorgio Romano diz que o trabalho de Putin para uma mudança de governo na Ucrânia "é claro". Ele compara a guerra atual com o episódio protagonizado pela Rússia na Geórgia, em 2008

São Paulo – Para o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC) Giorgio Romano Schutte, nenhum país irá impedir as ambições da Rússia no conflito contra a Ucrânia e a guerra é uma maneira do presidente Vladimir Putin ter o reconhecimento de sua força junto aos Estados Unidos.

“Nada pode impedir uma ambição do Putin, porque não haverá intervenção de outros países. Também não dá para saber como o Exército ucraniano responderá. O grande problema é não haver limite para a Rússia. Então, pode haver uma vontade de ocupar toda a Ucrânia. Putin está mostrando que tem força. A Rússia quer que Biden sente-se à mesa e reconheça a força mundial da Rússia. Não há limite militar para as tropas e a Europa ainda depende da energia russa”, afirmou o especialista, em entrevista ao repórter Rodrigo Gomes, da Rádio Brasil Atual, nesta sexta-feira (25).

O segundo dia do conflito militar entre Rússia e Ucrânia é marcado pela expectativa em relação à chegada das forças do presidente russo, Vladimir Putin, à capital ucraniana, Kiev. A agência de notícias AFP reportou que as tropas ucranianas informaram que enfrentam unidades de blindados russos nas localidades de Dymer e Ivankiv, situadas a 45 e 80 km ao norte de Kiev, respectivamente.

Rússia e seus anseios

Giorgio Romano diz que o trabalho de Putin para uma mudança de governo na Ucrânia “é claro”. Ele compara a guerra atual com o episódio protagonizado pela Rússia na Geórgia, em 2008. Na ocasião, os georgianos também tentaram ingressar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e, depois de um longo conflito militar travado contra os russos, duas regiões do país, a Assétia do Sul e a Abecásia, foram declaradas independentes.

Para o professor, na guerra atual, o confronto com a Otan está descartado. “Uma opção é algo parecido com a Geórgia, com parte do país independente. Outro cenário é a anexação total da Ucrânia, que pode virar uma guerra longa e uma página difícil de virar. Um terceiro, que deve ser a ideia do Putin, é a mudança de governo ucraniano (hoje, ocupado pelo presidente Volodymyr Zelensky) para tornar o país mais neutro na relação diplomática”, avalia Giorgio.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, afirmou, hoje, que o país está disposto a negociar se a Ucrânia deixar de lutar e “soltar as armas”. A agência estatal russa RIA Novosti informou que o país vizinho aceitou diálogo e quer “sentar à mesa”.

“Gostaria mais uma vez de me dirigir ao presidente da Federação da Rússia […]. Vamos nos sentar à mesa de negociações a fim de dar um basta na morte das pessoas”, declarou Zelensky em discurso, cujo vídeo foi publicado em sua conta no Telegram.

Sanções econômicas

O especialista em Relações Internacionais também comentou sobre as sanções econômicas de países ocidentais contra a Rússia. Os Estados Unidos, por exemplo, miraram o gasoduto submarino russo Nord Stream 2 (Corrente do Norte 2), que dobraria o fornecimento de gás para a Europa. “Orientei o governo a impor sanções à Nord Stream 2 AG e seus diretores corporativos”, disse o presidente americano Joe Biden.

De acordo com o professor, a Rússia se preparou com reservas e um fundo bilionário, além de negócios com a China, tornando possível absorver essas sanções. “Alemanha, Áustria, Bulgária, Itália são países que dependem do petróleo e carvão da Rússia, então também não será possível bloquear todos os negócios com os russos”, acrescentou.

Para ele, a Rússia e a China se unirão nesse embate para mostrar suas forças aos Estados Unidos. “Os russos têm uma economia com dois recursos de poder que sabe utilizar perfeitamente: a energia e a tecnologia militar. O que junta a Rússia e a China é o interesse de bater de frente com os Estados Unidos, país que sempre colocou os dois num segundo escalão. Inclusive, a China sabe que em pouco tempo se tornará a maior economia do mundo. Então, é uma maneira de demonstrar forças”, finalizou.

Confira a entrevista