Teatro do Oprimido muda realidade em todo o mundo

Método de Augusto Boal é utilizado nas mais diversas culturas e lí­nguas e tem como ponto de partida falar sobre a opressão social

Encenação da peça “No Mama – Frutos da mesma árvore” com o GTO-Bissau (Foto: Ney Motta/Divulgação)

Representantes de 25 paí­ses saí­ram da Conferência Internacional do Teatro do Oprimido, realizada entre 20 e 26 de julho, no Rio de Janeiro, com a missão de organizar o movimento internacional em torno do método. O evento foi realizado com pesar, pouco mais de um mês depois da morte do dramaturgo carioca Augusto Boal, criador do Teatro do Oprimido.

Trata-se de uma metodologia cênico-pedagógica que tem como meta modificar a percepção das pessoas e ajudar a disseminar soluções para problemas sociais. O método, hoje aplicado em 70 paí­ses nos cinco continentes, foi desenvolvido nas décadas de 1960 e 1970.

Em entrevista exclusiva à Rede Brasil Atual, a socióloga Bárbara Santos, coordenadora-geral do Centro de Teatro do Oprimido (CTO), fala sobre a abrangência do trabalho. Leia os principais trechos:

Como se caracteriza o Teatro do Oprimido?

A obra de Augusto Boal continua
O dramaturgo carioca Augusto Boal escreveu diversos livros, entre eles o ‘200 Exercí­cios e Jogos para o Ator” e o “Não-Ator Com Vontade de Dizer Algo Através do Teatro” (Editora Civilização Brasileira), e foi traduzido para vários idiomas. Ganhou diversos prêmios por seu trabalho e, em 2008, foi nomeado Embaixador do Teatro pela Unesco. Faleceu no dia 2 de maio deste ano, e seu trabalho continua a ser desenvolvido pelos chamados curingas, praticantes e pesquisadores do Método do Teatro do Oprimido, e pelos grupos que adotaram os seus conceitos.

A base é a interação. É um teatro baseado em uma estética propria. As pessoas se expressam por meio da arte. Expressam algo para transformá-lo. Aquele que está sofrendo uma injustiça quer lutar contra ela.

A Conferência Internacional do Teatro do Oprimido foi realizada pouco depois da morte de Boal. Quer dizer que o legado continua…
Boal já defendia a realização de uma conferência e nós ficamos um pouco em dúvida sobre a realização depois de sua morte. Por fim, decidimos fazê-la. Os
objetivos eram ratificar os fundamentos polí­ticos, filosóficos, estéticos e pedagógicos do método; analisar o impacto da aplicação de sua aplicação em diferentes áreas temáticas nas diversas regiões do mundo; estimular a reflexão sobre o movimento internacional do Teatro do Oprimido e as perspectivas de sua organização.

E qual foi a repercussão do evento?
Vieram representantes de 25 paí­ses: Austrália, Israel, Palestina, Nepal, Paquistão, Índia, Suécia, Holanda, Áustria, Alemanha, Inglaterra, França, Itália, Espanha, Portugal, Senegal, Guiné-Bissau, Sudão, Moçambique, Angola, Canadá, EUA, Porto Rico, Argentina, Uruguai e de 18 estados brasileiros. Foram realizadas a Mostra Internacional de Ví­deos, a Mostra de Espetáculos do Brasil e da Guiné-Bissau e a Estética dos Oprimidos, com exposição de pinturas e esculturas feitas pelos próprios oprimidos.

A lí­ngua e as diferenças culturais dificultam a disseminação do método?
Não, porque o objetivo é que as pessoas se apropriem dele, e que cada um decida como adequar melhor às suas necessidades, se não seria um método colonialista. Mesmo com a adequação à realidade de cada um, percebemos nas peças algumas características comuns. Os princípios da Ética e dos direitos humanos aparecem nos textos. Demostram a vontade da mudança, de as pessoas não se contentarem com a realidade que vivem. As peças são marcadas pelo diálogo com a plateia.

Que mudanças práticas o método provoca nos locais onde é aplicado?
Em Moçambique, por exemplo, depois que foi discutido a problemática da aids em uma peça, aumentou consideravelmente o número de pessoas que realizaram testes para diagnóstico da contaminação pelo HIV. Há uma mudança de comportamento. Por meio de metáforas, as pessoas veem o que não enxergavam sobre sua vida e optam pela mudança do comportamento. O diálogo traz um questionamento maior da realidade.

Mais informações sobre o Teatro do Oprimido:
www.ctorio.org.br
http://www.theatreoftheoppressed.org