Estreia

Silvio Almeida discute utopias antirrascistas com pastor Henrique Vieira

Estreia do programa ‘Utopias’ trouxe discussão sobre temas como racismo estrutural e o papel da espiritualidade e da arte na resistência contra a discriminação

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Programa Utopias estreou na quinta-feira (7) e será exibido quinzenalmente

São Paulo –  “A minha grande utopia é que possamos viver num mundo em que a mercadoria não seja a corda e a caçamba, a forma e a figura de todas as nossas relações.” O desejo expresso na declaração é do professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e do Mackenzie e presidente do Instituto Luiz Gama Silvio Almeida, convidado de estreia do programa Utopias, comandado pelo pastor Henrique Vieira em seu canal no Youtube.

A ideia da produção, que passa a ir ao ar quinzenalmente, é “devolver a possibilidade de sonhar e pensar num Brasil para além do que se vê agora. O que pode ser feito para mudar? Qual a nossa utopia?”. Durante a exibição do programa também são apresentados projetos sociais que precisam de ajuda e doação, representando as possibilidades de transformação mais imediatas.

Entre as discussões do primeiro programa estiveram questões como a resistência do movimento negro e a importância da espiritualidade e da arte no combate ao racismo, além das bases que fundam a desigualdade no Brasil. “É preciso entender como se formam as condições históricas, e portanto políticas, para que o racismo se manifeste enquanto ato de discriminação, mesmo sistematicamente. Quando nos deparamos com atos de violência, só conseguimos reconhecer se esse ato é um ato racista porque antes do acontecimento, antes daquele fenômeno, já havia a construção sobre aquilo que é raça. Antes da cena acontecer, já existia um cenário pronto”, explica Silvio Almeida.

“Pensar no racismo como algo estrutural é tirar o racismo dos aspectos morais, porque dá a impressão que o racismo é ato da vontade, desvio ou patologia de quem o pratica, mas ele tem que ser entendido como um conjunto de condições, um processo histórico e político que torna possível a discriminação racial”, aponta. Esse entendimento, segundo o professor, é importante por permitir que se articulem formas distintas de luta contra o racismo. “A forma de combater o racismo que vem de uma concepção estrutural é por meio da transformação social, da mudança das relações.”

Limites do Direito

No programa, Silvio Almeida também chamou a atenção para as limitações do Direito em relação ao combate ao racismo, já que ele funciona no Brasil como um dos elementos estruturantes de uma sociedade discriminatória.

“O racismo é possível porque existem estruturas jurídicas que funcionam a partir e funcionam também possibilitando a desigualdade racial e a discriminação”, apontou. “Costumo dizer que não existiria escravidão sem o Direito e sem os juristas da escravidão. Assim como também não existiria o racismo como um elemento fundamental para entender a organização e a formação das hierarquias na sociedade se não fosse o Direito e se não fossem os juristas que atuam para que este funcionamento se dê nos termos de validar o próprio funcionamento do sistema.”

Ao final da entrevista, o professor expressou o que considera um ideal de sociedade. “Minha utopia é que nós possamos entregar uma vida em que as opressões não tenham lugar, que a violência não tenha lugar, que a liberdade seja possível, que as pessoas possam projetar, diante da sua finitude, o infinito. Que as pessoas possam dizer: diante do tempo que eu tenho, vou viver para a minha felicidade, mas não entendo a minha felicidade que não seja produzir também as possibilidades para outras pessoas.”

Confira a conversa de Silvio Almeida e Henrique Vieira:


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