SP Cine

São Paulo ganha agência de cinema nos moldes da Rio Filme

Empresa terá investimento inicial de R$ 50 milhões e subsídios para produções, eventos, pesquisas e construção de salas de exibição

©lúcia whitaker/folhapress

A atriz Letícia Sabatella espera que agência valorize identidade brasileira

São Paulo – A cidade de São Paulo vai ganhar uma agência de fomento para produção, distribuição e exibição de audiovisual, chamada Empresa de Cinema e Audiovisual de São Paulo (SP Cine), resultado de um investimento conjunto do governo municipal, estadual e federal, por meio do Ministério da Cultura. A expectativa do prefeito Fernando Haddad (PT) é que a empresa pública comece a funcionar no ano que vem.

A SP Cine, cujo projeto de criação está sendo enviando hoje (31) à Câmara de vereadores por Haddad (PT), prevê investimento inicial de R$ 50 milhões, sendo R$ 25 milhões do município e R$ 25 milhões do estado e mais um valor a ser investido pela Agência Nacional do Cinema (Ancine) quando a agência estiver em funcionamento.

Funcionará nos moldes da Rio Filme, que existe desde 1992 e era, até aqui, a única do país de caráter municipal. Pelo menos outras três cidades no mundo possuem agências dessa natureza: Nova York, Bueno Aires e Seul.

“A SP Cine pode contribuir de forma articulada com o audiovisual nacional. A SP Cine não nasce para concorrer, mas para complementar a produção nacional”, disse o secretário municipal de Cultura de São Paulo, Juca Ferreira. “A comparação com a Rio Filmes é fraternal. Nós tivemos acesso a toda sua experiência, mandamos técnicos para lá e vimos o que pode ser adaptado para a nossa região. É possível criar, por exemplo, um sistema de coprodução e fortalecer a distribuição de cinema e não só em São Paulo e no Rio.”

Durante a cerimônia de lançamento do projeto, que ocorreu nesta manhã, na Praça das Artes, no centro da cidade, o prefeito pediu ao presidente da Câmara, José Américo (PT), também presente, que agilize a tramitação. “A quantidade de palmas que recebemos aqui mostra que a população quer o projeto o mais rápido possível.” Segundo Haddad, o orçamento municipal de 2014 já traz o investimento na SP Cine.

José Américo afirmou que o órgão está comprometido com a aprovação do projeto. “Tenha certeza de que esse projeto vai ser discutido e aprovado da melhor maneira possível, para por em prática essa brilhante ideia.”

O projeto da SP Cine foi elaborado com apoio de dez associações do setor de audiovisual. A ideia é que o financiamento de produções, que incluirão documentários, curtas e longas, ocorra por meio de edital.

Segundo o material de divulgação apresentado hoje, a SP Cine “atuará fortemente” na coprodução, na distribuição e na comercialização de conteúdos. Entre os objetivos da empresa, está o de “desenvolver, financiar e implementar políticas públicas” para o audiovisual na cidade.

O projeto prevê subsídios para produções, eventos, pesquisas e construção de espaços físicos para atividade audiovisual. A empresa poderá criar filiais pela cidade, desde que obedecendo as mesmas disposições da SP Cine.

“As produções de audiovisual das periferias também poderão contar com a SP Cine, que é para todo mundo. Queremos fomentar as grandes produções, que podem ter projeção internacional e também aquela que está sendo produzida na periferia”, disse Haddad, aplaudido após a declaração. “Temos todos os ingredientes para fazer esse projeto decolar.”

A ministra da Cultura, Marta Suplicy, presente, concordou. “É uma indústria limpa e criativa, que traz como resultado um produto que alegra a alma e enriquece nossa cultura”, disse. “O cinema é um dos meios mais eficazes de criar uma imagem do país, registrando movimentos históricos e características culturais. São Paulo poderá contribuir muito com isso.”

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) lembrou a importância do setor cultural na geração de emprego. “No mundo moderno a agricultura é mecanizada e a indústria, robotizada. O que gera emprego é o setor de serviços, que com certeza tem muito a oferecer”, afirmou. “Estou quase legislando em causa própria, porque sou cinéfilo!”, brincou.

Participaram do evento cerca de 300 pessoas, entre artistas, diretores e produtores de cinema. A atriz Letícia Sabatella disse esperar que a SP Cine incentive a produção de histórias com conteúdo nacional. “Acredito que poderá trazer uma identidade brasileira mais aparente às produções. A gente tem esperança que as histórias a serem contadas apareçam no nosso cinema”, disse.

“A aventura que lançamos hoje é coletiva, vivida no mais franco espírito republicano. Muito importante saudar a reunião de forças em torno de uma grande tarefa: uma produção audiovisual efetivamente forte para além das nossas discordâncias. Por isso é muito positivo ver prefeitura, estado e governo federal reafirmando a importância da cultura”, disse o também ator Fernando Alves Pinto, durante leitura da carta de apresentação do projeto.

“Nossa truncada expressão audiovisual, feita de sucessivos recomeços, foi incapaz até hoje de se firmar como um processo acumulativo e continuado, que envolva a produção, mas que se realize em sua presença social”, concluiu.

A atriz Camila Pitanga, que participou da leitura, disse que é preciso, com coragem, escolher todas as formas de produção audiovisual. “Em são Paulo, as chances de reinvenção são imensas. Nos reiventamos antropofagicamente desde sempre e as forças de agitação, aquelas que ainda não compreendemos, são tanto de destruição quanto de criação. Elas fazem voar pelos ares pedaços de imaginação nos dando a chance de novas reinvenções.”

Mais de 500 produtoras estão sediadas em São Paulo. “No entanto, devido à burocracia para realizar filmagens na capital, muitas delas optam por filmar e produzir em outras capitais”, relata o material divulgado durante o evento. Em 2011, 32 filmes paulistas foram lançados no mercado, enquanto o Rio de Janeiro lançou 43 longas-metragens.

Apesar disso, o estado de São Paulo também reúne a maior estrutura para exibição de filmes do Brasil: 280 salas de cinema na capital e 770 no interior.