‘Pisar Suavemente na Terra’: sobre a resistência ambiental e o impacto das escolhas da sociedade no futuro
Filme reúne relatos de luta contra a devastação e exemplos de como o futuro do planeta será obra das decisões humanas
Publicado 06/11/2022 - 16h24

São Paulo – No dia 2, o último da 46ª Mostra Internacional de Cinema, o Instituto Moreira Salles (IMS) na Avenida Paulista, lotou para a segunda sessão de Pisar Suavemente na Terra, uma produção de 73 minutos que levou três anos para ser concluída, em 2021. É o segundo longa de Marcos Colón, professor na Florida State University, nos Estados Unidos – o primeiro contou a história da Fordlândia. Agora, o roteiro (assinado por Marcos Colón e pelo geógrafo Bruno Malheiro) embarca no presente para tentar proteger o futuro.
Quatro personagens de origem indígena são os narradores e pensadores. Tônkyre Akrãtikatêjê, filha de um líder que tentou resistir à expulsão de seu povo por causa da construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, vive hoje na Terra Indígena Mãe Maria (PA), às volta com a Vale e com madeireiros. José “Pepe” Manuyama, morador de Iquitos (Peru), professor e membro de coletivo, defende o rio Nanay contra a contaminação. Manoel Munduruku, da Aldeia Ipaupixuna, representante de quatro aldeias do povo Munduruku e cinco do povo Apiaká, contra a expansão da soja e outros projetos de “desenvolvimento” na região de Santarém. E o ambientalista, filósofo e escritor Ailton Krenak, um dos articuladores do que se tornou a Aliança dos Povos da Floresta. Viu e sentiu de perto o rompimento da Barragem do Fundão, em 2015, em Mariana (MG). Veio dele a frase que dá nome do ao filme, aplaudido por vários minutos após a exibição.
Resistência e convivência
São relatos das ameaças causadas pela mineração, pelo garimpo, a extração de madeiros, a construção de hidrelétricas. Ameaças não apenas àquelas populações diretamente atingidas, mas ao planeta. Assim, o mundo não foi feito para ser “comido”, diz a narração logo no início. Afinal, por melhor que seja a festa, uma hora o bolo acaba. Os entrevistados buscam refletir sobre formas de resistência e convivência. Assim, compartilham uma preocupação: a necessidade de alertar os jovens. Tônkyre, ou Kátia, conta que a pintura do rosto é uma forma de se fortalecer, mas os mais novos não querem seguir a tradição.

De volta para os Estados Unidos neste final de semana, o professor Marcos afirmou antes da sessão que a mudança de governo no Brasil poderá, talvez, proporcionar “outros possíveis” ao Brasil. Ele lembrou que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, já está convidado e participará da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 27.
O diretor, criador da plataforma Amazônia Latitude, também esteve por aqui em julho, quando participou do 10º Fórum Social Pan-Amazônico (Fospa), em Belém, com exibição de Pisar Suavemente na Terra. Somente depois de passar por uma série de festivais, como a Mostra de São Paulo, o filme chegará ao público em geral. Com filmagens no Brasil, Colômbia e Peru, o longa começa narrando a destruição e termina com uma busca de esperança. Mas tudo é, lembra a narração, “expressão cabal das escolhas que fizemos como sociedade”.