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‘Pisar Suavemente na Terra’: sobre a resistência ambiental e o impacto das escolhas da sociedade no futuro

Filme reúne relatos de luta contra a devastação e exemplos de como o futuro do planeta será obra das decisões humanas

Divulgação
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Tônkyre Akrãtikatêjê: povo foi expulso das terras por causa de hidrelétrica

São Paulo – No dia 2, o último da 46ª Mostra Internacional de Cinema, o Instituto Moreira Salles (IMS) na Avenida Paulista, lotou para a segunda sessão de Pisar Suavemente na Terra, uma produção de 73 minutos que levou três anos para ser concluída, em 2021. É o segundo longa de Marcos Colón, professor na Florida State University, nos Estados Unidos – o primeiro contou a história da Fordlândia. Agora, o roteiro (assinado por Marcos Colón e pelo geógrafo Bruno Malheiro) embarca no presente para tentar proteger o futuro.

Quatro personagens de origem indígena são os narradores e pensadores. Tônkyre Akrãtikatêjê, filha de um líder que tentou resistir à expulsão de seu povo por causa da construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, vive hoje na Terra Indígena Mãe Maria (PA), às volta com a Vale e com madeireiros. José “Pepe” Manuyama, morador de Iquitos (Peru), professor e membro de coletivo, defende o rio Nanay contra a contaminação. Manoel Munduruku, da Aldeia Ipaupixuna, representante de quatro aldeias do povo Munduruku e cinco do povo Apiaká, contra a expansão da soja e outros projetos de “desenvolvimento” na região de Santarém. E o ambientalista, filósofo e escritor Ailton Krenak, um dos articuladores do que se tornou a Aliança dos Povos da Floresta. Viu e sentiu de perto o rompimento da Barragem do Fundão, em 2015, em Mariana (MG). Veio dele a frase que dá nome do ao filme, aplaudido por vários minutos após a exibição.

Resistência e convivência

São relatos das ameaças causadas pela mineração, pelo garimpo, a extração de madeiros, a construção de hidrelétricas. Ameaças não apenas àquelas populações diretamente atingidas, mas ao planeta. Assim, o mundo não foi feito para ser “comido”, diz a narração logo no início. Afinal, por melhor que seja a festa, uma hora o bolo acaba. Os entrevistados buscam refletir sobre formas de resistência e convivência. Assim, compartilham uma preocupação: a necessidade de alertar os jovens. Tônkyre, ou Kátia, conta que a pintura do rosto é uma forma de se fortalecer, mas os mais novos não querem seguir a tradição.

pisar suavemente na terra
Pisar Suavemente na Terra passará por uma série de festivais antes de chegar ao público em geral (Divulgação)

De volta para os Estados Unidos neste final de semana, o professor Marcos afirmou antes da sessão que a mudança de governo no Brasil poderá, talvez, proporcionar “outros possíveis” ao Brasil. Ele lembrou que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, já está convidado e participará da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 27.

O diretor, criador da plataforma Amazônia Latitude, também esteve por aqui em julho, quando participou do 10º Fórum Social Pan-Amazônico (Fospa), em Belém, com exibição de Pisar Suavemente na Terra. Somente depois de passar por uma série de festivais, como a Mostra de São Paulo, o filme chegará ao público em geral. Com filmagens no Brasil, Colômbia e Peru, o longa começa narrando a destruição e termina com uma busca de esperança. Mas tudo é, lembra a narração, “expressão cabal das escolhas que fizemos como sociedade”.

Assista ao trailer