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Edital para nova gestão da Cinemateca Brasileira publica resultado final

Maior acervo audiovisual da América Latina será controlado pela Sociedade Amigos da Cinemateca (SAC), com o gestor cultural Carlos Augusto Calil à frente. Após desmonte pelo governo Bolsonaro, desafios são grandes

wikicommons/cc
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O chamamento público foi realizado antes do incêndio. Logo, o valor do edital de 14 milhões de reais pode ser curto para as ações necessárias

São Paulo – Após conquistar pontuação máxima em edital, a Sociedade Amigos da Cinemateca (SAC) foi eleita para controlar a Cinemateca Brasileira, entidade que abriga o maior acervo audiovisual da América Latina. O resultado da concorrência foi publicado no Diário Oficial da União desta segunda-feira (18), conforme informou o jornalista Jotabê Medeiros em seu blog.

A nova controladora enfrentará os desafios deixados pelo abandono da Cinemateca pelo governo olsonaro, o que inclui um incêndio em parte de um de seus galpões, em julho. O edital que elegeu a nova administradora da Cinemateca, no valor de 14 milhões de reais, foi lançado antes do incêndio.

A SAC é uma entidade civil sem fins lucrativos criada em 1962. De acordo com seu site, a SAC tem como finalidade “contribuir para o desenvolvimento das atividades da Cinemateca Brasileira, pela articulação de iniciativas com a sociedade civil e com as esferas pública e privada”. Criada em 1962, tornou-se um Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) em 2008, condição que a credencia para estabelecer convênios com os poderes públicos.

À frente da Cinemateca estará Carlos Augusto Calil, especialista em cinema e acervo audiovisual e crítico severo do abandono da instituição pelo governo federal. Professor da Universidade de São Paulo (USP), ele já ocupou a Secretaria de Cultura da cidade de São Paulo e também o próprio comando da Cinemateca. “O sentimento que o atual governo federal reflete é de que a cultura é inimiga das instituições, da manutenção do poder constituído. A arte tem de fato a capacidade de promover a emancipação do indivíduo, o que pode incomodar um poder anacrônico, reacionário, expondo suas inconsistências e falácias”, disse Calil em entrevista ao Jornal da USP.

Descaso na Cinemateca

O espaço já foi considerado a quinta maior cinemateca do mundo. São 44 mil títulos ao todo. Além de longas, médias e curtas-metragens, o acervo guarda décadas de gravações de programas da televisão brasileira, filmes publicitários e “preciosidades”, como os originais de todos os filmes, roteiros e cartas do cineasta baiano Glauber Rocha. Trata-se ainda da primeira oportunidade de contato com a arte cinematográfica pelas crianças.

O governo deu os primeiros sinais de que planejava o desmonte da instituição e demonstrou desprezo pelo seu acervo no fim de 2019. Na ocasião, o então ministro da Educação, Abraham Weintraub, decidiu romper, unilateralmente, o contrato da instituição com a fundação Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), que administrava a Cinemateca. Para justificar o rompimento, usou argumentos inconsistentes como “combate à doutrinação e ao marxismo cultural”, entre outros. O ex-ministro chegou a expulsar trabalhadores da Acerp do ministério.