Cinema

Cinebiografia de João Carlos Castanha mescla documentário e ficção

Filme de Davi Pretto que estreia nesta quinta-feira (20) narra a vida de ator gaúcho conhecido na cena teatral e underground gay de Porto Alegre

Divulgação

Assim como as narrativas se misturam, João também parece se perder entre o que é realidade e o que é atuação

Em Castanha, primeiro filme do jovem cineasta gaúcho Davi Pretto, não ficam claras as barreiras entre a ficção e o documentário. Nem precisam ficar. O trunfo do longa-metragem é justamente deixar o espectador adentrar na história do protagonista que interpreta (ou vive) seu próprio papel. João Carlos Castanha é ator de teatro, animador e faz performances como transformista em boates masculinas da cena underground de Porto Alegre.

O filme Castanha estreia nesta quinta-feira (20) em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, Caxias do Sul, Goiânia, Aracaju e em Salvador. Selecionado e exibido pela primeira vez na sessão Fórum do Festival de Berlim, que destaca os trabalhos autorais, o longa-metragem retrata a vida do ator de 52 anos que vive com sua mãe Celina Castanha, de 72. Ela, aliás, se sai muito bem interpretando seu próprio papel, de mãe João, e a interação entre eles rende cenas emocionantes.

Para quem não conhece João nem seu personagem Castanha, o filme pode facilmente ser visto como uma ficção. Assim como as narrativas se misturam, João também parece se perder entre o que é realidade e o que é atuação. Em casa com a mãe e os cachorros, a monotonia e lentidão de sua vida diurna, o trabalho nas boates… O que é performance e o que é vida real?

Cada espectador vai achar sua própria resposta, construí-la cena a cena porque em Castanha nada virá de mãos beijadas. Apesar de o trabalho nas boates aparentemente ter mais “apelo” que a vida familiar e diurna de João, é em casa que a trama se desenrola mais profundamente e conhecemos o João para além de Castanha.

A preocupação de Celina com o estilo de vida e o ambiente de trabalho que João tem, os problemas causados pelo filho da irmã, viciado em crack, a saúde frágil, a solidão e a sequência interminável de cigarros compõem o personagem real e fictício.

O longa-metragem também ronda o assunto morte, tanto que a cena de abertura traz João cambaleando nu, encharcado de sangue em uma rua deserta escura. Em certo momento, Celina também aparece ensanguentada. Há ainda o pai de João, moribundo em um asilo. Sem falar nos amigos que partiram (ou sobreviveram) à epidemia de aids na década de 1980. Castanha tem de batalhar dia a dia para viver de arte na capital gaúcha. Enfim, são muitas as metáforas acerca do tema.

A imagem franzina, enrugada e frágil do ator contrasta com a inusitada interpretação que faz de si mesmo. Ele e o diretor Davi Pretto apresentam seu personagem de maneira grandiosa, ambos com talento proporcional ao que João tem demonstrado em mais de 30 anos nos palcos de Porto Alegre.

Rede Brasil AtualCastanha
Elenco: João Carlos Castanha e Celina Castanha
Direção: Davi Pretto
Produção: Paola Wink
Direção de fotografia: Glauco Firpo
Edição: Bruno Carboni
Direção de arte: Richard Tavares
Desenho de som: Tiago Bello
Som direto: Marcos Lopes
Trilha sonora original: Diego Poloni e Tiago Abrahão
Produtora: Tokyo Filmes
Co-produção: Canal Brasil