Cinebiografia de João Carlos Castanha mescla documentário e ficção
Filme de Davi Pretto que estreia nesta quinta-feira (20) narra a vida de ator gaúcho conhecido na cena teatral e underground gay de Porto Alegre
Publicado 20/11/2014 - 11h08
Assim como as narrativas se misturam, João também parece se perder entre o que é realidade e o que é atuação
Em Castanha, primeiro filme do jovem cineasta gaúcho Davi Pretto, não ficam claras as barreiras entre a ficção e o documentário. Nem precisam ficar. O trunfo do longa-metragem é justamente deixar o espectador adentrar na história do protagonista que interpreta (ou vive) seu próprio papel. João Carlos Castanha é ator de teatro, animador e faz performances como transformista em boates masculinas da cena underground de Porto Alegre.
O filme Castanha estreia nesta quinta-feira (20) em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, Caxias do Sul, Goiânia, Aracaju e em Salvador. Selecionado e exibido pela primeira vez na sessão Fórum do Festival de Berlim, que destaca os trabalhos autorais, o longa-metragem retrata a vida do ator de 52 anos que vive com sua mãe Celina Castanha, de 72. Ela, aliás, se sai muito bem interpretando seu próprio papel, de mãe João, e a interação entre eles rende cenas emocionantes.
Para quem não conhece João nem seu personagem Castanha, o filme pode facilmente ser visto como uma ficção. Assim como as narrativas se misturam, João também parece se perder entre o que é realidade e o que é atuação. Em casa com a mãe e os cachorros, a monotonia e lentidão de sua vida diurna, o trabalho nas boates… O que é performance e o que é vida real?
Cada espectador vai achar sua própria resposta, construí-la cena a cena porque em Castanha nada virá de mãos beijadas. Apesar de o trabalho nas boates aparentemente ter mais “apelo” que a vida familiar e diurna de João, é em casa que a trama se desenrola mais profundamente e conhecemos o João para além de Castanha.
A preocupação de Celina com o estilo de vida e o ambiente de trabalho que João tem, os problemas causados pelo filho da irmã, viciado em crack, a saúde frágil, a solidão e a sequência interminável de cigarros compõem o personagem real e fictício.
O longa-metragem também ronda o assunto morte, tanto que a cena de abertura traz João cambaleando nu, encharcado de sangue em uma rua deserta escura. Em certo momento, Celina também aparece ensanguentada. Há ainda o pai de João, moribundo em um asilo. Sem falar nos amigos que partiram (ou sobreviveram) à epidemia de aids na década de 1980. Castanha tem de batalhar dia a dia para viver de arte na capital gaúcha. Enfim, são muitas as metáforas acerca do tema.
A imagem franzina, enrugada e frágil do ator contrasta com a inusitada interpretação que faz de si mesmo. Ele e o diretor Davi Pretto apresentam seu personagem de maneira grandiosa, ambos com talento proporcional ao que João tem demonstrado em mais de 30 anos nos palcos de Porto Alegre.
Castanha
Elenco: João Carlos Castanha e Celina Castanha
Direção: Davi Pretto
Produção: Paola Wink
Direção de fotografia: Glauco Firpo
Edição: Bruno Carboni
Direção de arte: Richard Tavares
Desenho de som: Tiago Bello
Som direto: Marcos Lopes
Trilha sonora original: Diego Poloni e Tiago Abrahão
Produtora: Tokyo Filmes
Co-produção: Canal Brasil