Eu sou o samba

Centenário de Zé Ketti é comemorado com show

Sambista é autor de clássicos como “A Voz do Morro”, “Opinião” e “Máscara Negra”

Reprodução/Montagem RBA
Reprodução/Montagem RBA
Nascido no subúrbio carioca, Zé Ketti tornou-se conhecido após a gravação de "A Voz do Morro". Compôs clássicos do carnaval e músicas com crítica social

São Paulo – Quando criança, tímido, José Flores de Jesus era o “Zé Quieto” ou “Quietinho”, vindo daí o nome artístico daquele que se transformou em um dos principais sambistas do país. O centenário de Zé Ketti, que se completou em 16 de setembro, será comemorado com show no teatro Rival Refit, no centro do Rio de Janeiro, neste sábado (2), a partir das 19h30. A portelense Geisa, filha de Zé Ketti, e o mangueirense Onesio Meirelles, seu companheiro, reúnem netos, bisneto, sobrinho e amigos para relembrar sucessos do cantor e compositor, que morreu em 1999, aos 78 anos.

Frequentador das rodas há muito tempo, como no Café Nice, Zé Ketti só “estourou” mesmo em 1955, quando Jorge Goulart, sob regência de Radamés Gnattali, gravou A Voz do Morro. A canção fez parte da trilha sonora do filme Rio, 40 Graus, de Nelson Pereira dos Santos. A vida mudava para o ex funcionário de uma fábrica de calçados, gráfico e policial, que nunca largou a vida noturna. Suas canções, além da celebração do samba e do carnaval (caso de outro clássico, Máscara Negra, com Pereira Matos, de 1967), também mostram presente crítica social.

Eu não mudo de opinião

O mais conhecido exemplo dessa postura é Opinião, faixa-título do show apresentado em 1964 com o próprio Zé Ketti, João do Vale e Nara Leão (posteriormente substituída por Maria Bethânia). Mais lembrada na voz da cantora, foi uma canção lançada poucos meses depois da ditadura e que se tornou um dos sinônimos de resistência. O próprio teatro passou a se chamar Opinião. Nesse mesmo ano, Nara gravaria outra pérola do cantor, Diz que Fui por Aí (parceria com Hortêncio Rocha).

Filha do cantor, Geisa e Onesio Meirelles reúnem sambistas para lembrar alguns dos clássicos criados por Zé Ketti (Divulgação)

Foi uma época de aproximação entre músicos de classe média e sambistas. Tempos de Bossa Nova, Cinema Novo, Centro Popular de Cultura, a União Nacional dos Estudantes (UNE). Assim, Zé Ketti, por exemplo, compõe com Carlos Lyra o Samba da Legalidade, também gravado por Nara, em 1965.

Cl´ássicos e página na internet

Zé Ketti também foi decisivo para formar o grupo A Voz do Morro, que entre outros traz os iniciantes Elton Medeiros e Paulinho da Viola. Participa de outros filmes nos anos 1960, como O Boca de Ouro (1962), também dirigido por Nelson Pereira, A Falecida (1965), de Leon Hirszman.

Tem outras obras bastante conhecidas, cantadas e regravadas, como Leviana, Acender as Velas, Malvadeza Durão, e O Meu Pecado. Algumas serão lembradas neste fim de semana. Também há um site em construção para preservar a memória do artista.

O Rival terá aproximadamente 70% de sua capacidade, para manter o distanciamento social mínimo. Por determinação municipal, é preciso apresentar comprovante de vacinação.