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Cinema pernambucano vai à disputa do Oscar, com o ‘O Som ao Redor’

Filme dirigido por Kleber Mendonça, diretor que polemizou com a Globo Filmes, representará o Brasil para concorrer a uma vaga entre os que disputarão prêmio de filme estrangeiro

Divulgação

São Paulo – O filme O Som ao Redor representará o Brasil na disputa por uma vaga ao prêmio de melhor filme estrangeiro no Oscar 2014. A escolha foi anunciada pelo secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura, Leopoldo Nunes, nesta sexta-feira (20), em Brasília. O longa é dirigido pelo cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho, que no início do ano protagonizou uma polêmica com o executivo da Globo Filmes Cadu Rodrigues, em torno da dissociação entre a qualidade da produção cinematográfica brasileira e sua bilheteria.

Na ocasião, Kleber havia dito em entrevista que a principal distribuidora de filmes do país, vinculada às Organizações Globo, não privilegia a qualidade do cinema nacional, mas as possibilidades comerciais das produções. “Se o vizinho lançar o vídeo do churrasco dele no esquema da Globo Filmes, fará 200 mil espectadores no primeiro final de semana”, disse ao jornal Folha de S.Paulo. Cadu Rodrigues respondeu ao cineasta provocando-o atingir 200 mil expectadores com apoio da Globo Filmes e o pernambucano treplicou, em cartas aberta: “O sistema Globo Filmes faz mal à idéia de cultura no Brasil, atrofia o conceito de diversidade no cinema brasileiro e adestra um público cada vez mais dopado para reagir a um cinema institucional e morto”.

A Comissão Especial de Seleção elegeu O Som ao Redor em um processo que tinha ainda outros 13 longas em disputa: Cine Holliúdy, Colegas, Cores, Elena, Faroeste Caboclo, Gonzaga de Pai para Filho, Meu Pé de Laranja Lima, O Dia que durou 21 Anos, O que se move, O Tempo e o Vento, Porto dos Mortos, Uma História de Amor e Fúria e Xico Stockinger.

Essa é apenas a primeira “triagem”, ou seja, o filme foiselecionado para concorrer com outros 70 filmes do mundo todo. Apensa cinco finalistas serão anunciados no início de 2014 para a disputa final do Oscar.

O longa de Kleber Mendonça, seu primeiro, retrata a vida numa rua de classe média do Recife que toma um rumo inesperado após a chegada de uma milícia que oferece a paz de espírito da segurança particular. Ao mesmo tempo que os mais ricos passam a ter mais tranquilidade, outros começam a sentir um clima de ameaça. Dois lados da mesma moeda. Extratos sociais não muito distantes, mas distintos.

Assim como o documentário Doméstica, de Gabriel Mascaro, a ficção O Som ao Redor mostra o medo e a opressão da classe média, ainda tão carregada do clima de Casa Grande & Senzala. Além da violência física, o filme de Kleber expõe uma violência não-verbal que todos fingem não ver: é uma crônica sobre a paranoia da classe média (e, por que não, alta) e a opressão social que se reflete na urbanização, na arquitetura, na sensação de (in)segurança.