Populações em áreas de risco não reconhecem perigo, diz especialista

Deslizamentos que atingiram parte de Blumenau, em novembro de 2008 (Foto: Secretaria de Comunicação do Exército Brasileiro) Moradores de áreas de risco têm dificuldade em aceitar que convivem com o […]

Deslizamentos que atingiram parte de Blumenau, em novembro de 2008 (Foto: Secretaria de Comunicação do Exército Brasileiro)

Moradores de áreas de risco têm dificuldade em aceitar que convivem com o perigo, afirma a professora universitária Rafaela Vieira, autora de uma tese de doutorado sobre o tema.

Para desenvolver sua pesquisa “Um olhar sobre a paisagem e o lugar como expressão do comportamento frente ao risco de deslizamento” – defendida na escola de Geografia da Universidade Federal de Santa Catarina -, Rafaela entrevistou moradoradores da sub-bacia do Ribeirão Araranguá, em Blumenau, na região nordeste de Santa Catarina, a 130 km de Florianópolis, e constatou que “quanto maior o risco, mais difícil é a aceitação do perigo.”

Segundo a especialista, pesquisas sobre a percepção de risco em nível mundial diagnosticaram o mesmo problema. “Se a pessoa assume aquilo [o risco], ela vai ter de mudar”, diz, explicando o porquê da resistência em permanecer junto ao perigo.

Durante a pesquisa, Rafaela identificou que os moradores da sub-bacia sabem o que é um deslizamento de encostas e que há risco de destruição e mortes. Mas a maioria dos entrevistados não reconhece o próprio risco a que está exposto. “Acham que o deslizamento não pode acontecer onde moram, apesar da grande maioria ser residente em áreas de suscetibilidades e potencial deslizamentos”, aponta.

Além de “mascarar o problema”, os moradores preferem atribuir os escorregamentos de terra a fatores naturais. Em sua tese de doutorado, Rafaela cita o caso de Recife (PE), onde a população atribui os  deslizamentos na cidade à chuva.

Por outro lado, fatores como a ausência de vegetação, o escoamento pluvial impróprio, a insuficiente coleta de resíduos sólidos e o baixo grau de instrução dos moradores foram pouco apontados como causadores de incidentes, indica o estudo.

De forma similar, na Europa, a cheia do rio Danúbio, em 1988, foi atribuída pela população a fatores naturais, como alta precipitação e degelo das montanhas.

Outra tendência é encarar os desastres como ‘ato de Deus’ para punir as ações humanas. É o que a pesquisadora chama de “transferir a incerteza para o ‘alto poder'”.