Novas suspeitas

Polícia do Rio encontra corpos de suspeitos de executar médicos, entre eles o irmão de Sâmia Bonfim

A polícia aponta que os mortos seriam integrantes de uma organização criminosa que atua na Gardênia Azul, na zona oeste da cidade

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O secretário executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Capelli, descartou a federalização do crime contra os médicos. PF apoiará investigação com inteligência

São Paulo – As polícias Civil e Militar encontraram na madrugada desta sexta-feira (6) quatro corpos de suspeitos de terem assassinado os três médicos ortopedistas, entre eles o irmão da deputada federal Sâmia Bonfim (Psol-SP). O crime ocorreu em um quiosque na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro, na madrugada de ontem (5).

Conforme a delegacia de Homicídios da Capital (DHC), os corpos dos suspeitos foram localizados nas proximidades do ataque aos médicos. Estavam em dois carros, encontrados em pontos diferentes da zona oeste carioca. Um dos mortos estava no porta-malas de um veículo na Praça da Gardênia, na Gardênia Azul. Os outros três estavam em um outro veículo, em uma rua perto do Riocentro. Todos os cadáveres apresentavam ferimentos de disparos de arma de fogo e facadas.

A polícia afirma que os mortos seriam integrantes de uma organização criminosa que atua na Gardênia Azul. A suspeita é que corpo achado no porta-malas seja de um traficante apelidado de Lesk, que teria migrado da milícia para o Comando Vermelho após a entrada do tráfico no bairro. Os investigadores também acreditam que ele teria sido o autor da ordem do ataque contra os médicos.

Segundo informações preliminares divulgadas ainda nesta quinta, a linha principal de investigação é a de que os médicos teriam sido executados por engano. Segundo a polícia, Perseu Ribeiro de Almeida, uma das vítimas, teria sido confudido pelos criminosos com Taillon de Alcantara Pereira Barbosa. Ele é acusado pelo Ministério Público do Rio de integrar a milícia de Rio das Pedras, também na zona oeste do Rio e, além da semelhança física com o médico, mora em um apartamento localizado a 200 metros do quiosque, onde ocorreu o crime. Barbosa está em liberdade condicional desde o 26 de setembro.

O crime

A linha de investigação do assassinato dos três médicos – um sobreviveu – vem provocando dúvidas por causa da relação de uma das vítimas com parlamentares atuantes no combate à extrema direita e à violência miliciana, berço de eclosão de políticos ligados ao bolsonarismo. Um dos médicos mortos é Diego Ralf de Souza Bomfim, irmão da deputada Sâmia Bomfim e cunhado do também deputado Glauber Braga (Psol-RJ), aguerridos no combate à violência. Nos últimos meses, Sâmia chegou a denunciar ameaças de morte que vinha sofrendo por conta de sua atuação.

A relação também não foi descartada pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, que afirmou nesta quinta que a polícia também investiga a hipótese de crime político. “Há indicações que podem deduzir a configuração de materialidade e autoria do delito. Não podemos adiantar investigações, evidentemente. Mas reitero às famílias, aos médicos e profissionais de saúde, à sociedade do Rio de Janeiro de que os crimes são alvos de investigações. Embora seja constante a presença de milicianos e facções naquele estado, jamais banalizamos a perda de vidas humanas. Estamos investigando todos os casos, desde o assassinato de Marielle Franco a todos casos diários”, afirmou o ministro.

A Polícia Federal também ofereceu ajuda de inteligência às polícias do Rio, mas na noite de ontem, o secretário executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Capelli, descartou a federalização do crime contra os médicos. “A Polícia Federal tem um banco de informações bastante robusto e importante para apoiar as investigações”, disse Cappelli. O secretário participa hoje de uma reunião com governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL) para tratar do caso e de ações no Complexo da Maré, na zona norte da cidade.

Carta de Sâmia

Na manhã desta sexta, a deputada federal publicou uma mensagem de despedida ao irmão em sua página no Instagram, destacando que a família lutará por justiça. “Você sempre incentivou que eu usasse minha voz e posição para brigar pelo certo e pelo justo. Essa briga eu daria tudo pra não precisar dar, mas será a maior de todas elas”, escreveu Sâmia.

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Redação: Clara Assunção