Moradores do Alemão não percebem melhorias nos serviços públicos depois de instalação de UPP

Rio de Janeiro – A percepção dos moradores do Complexo do Alemão – conjunto de favelas na zona norte do Rio de Janeiro – em relação à prestação de serviços […]

Rio de Janeiro – A percepção dos moradores do Complexo do Alemão – conjunto de favelas na zona norte do Rio de Janeiro – em relação à prestação de serviços públicos na comunidade melhorou pouco com a instalação de uma unidade de polícia pacificadora (UPP), no ano passado. A avaliação sobre o tratamento dado pela polícia aos moradores também está abaixo da média de outras regiões da cidade.

As constatações são do Índice de Percepção da Presença do Estado divulgado nesta quinta-feira (24) pela Fundação Getulio Vargas (FGV). A pesquisa entrevistou, em duas etapas (outubro e janeiro), 1,2 mil moradores de três áreas da cidade: o Complexo do Alemão, zona A (zona norte e oeste – com exceção da Barra da Tijuca e Santa Teresa) e zona B (zona sul, Barra da Tijuca e Santa Teresa).

“O cidadão não percebeu a atuação do Estado nas áreas de infraestrutura básica, educação e saúde, por exemplo”, disse um dos coordenadores da pesquisa, Fernando de Holanda Barbosa Filho. Por outro lado, foi observado uma melhora nas áreas de justiça e segurança pública. “Isso indica que o cidadão não percebeu o Estado entrando para valer, ampliando a oferta de água ou a coleta de esgoto”, explicou.

De zero a 100, os moradores do Alemão subiram a nota dos serviços de educação de 59 pontos para 62 pontos entre outubro e janeiro. A nota da saúde ficou praticamente estável (34 pontos) e a de infraestrutura básica caiu de 54 para 52 pontos. As notas das zonas A e B para os mesmos serviços foram de 52 e 47 para educação; 32 e 34 para saúde, e 69 e 72 para infraestrutura.

No indicador que avaliou a segurança pública, a pesquisa chama atenção para o fato de a comunidade avaliar que não é bem tratada pela polícia. Embora 72% do moradores aprovem a UPP e os pontos para ação policial na comunidade tenham passado de 32 para 57, a nota para o tratamento recebido pelos moradores é 49 – inferior ao das zonas A (68) e B (73).

“A ação policial foi bem avaliada. É tão bem avaliada no Alemão quanto no restante da cidade. Mas você não observa o mesmo ocorrendo com o tratamento policial. O morador do Alemão ainda acha que o tratamento que a polícia dá a ele não é igual ao que dá no restante da cidade”, disse o economista Fernando de Holanda Barbosa Filho.

A pesquisa da FGV avaliou a percepção dos cariocas sobre 12 dimensões. Na comunidade pacificada da zona norte, também identificou pequenos avanços nos indicadores de cidadania como acesso à justiça, inclusão social e preconceito de gênero. Em infraestrutura, destaca o aumento da nota de cultura de 45 para 58, o que deve refletir a inauguração de uma sala de cinema.

“Em todas as vezes que fomos até o local o cinema estava lotado”, contou o pesquisador. No entanto, segundo ele, somente com a próxima pesquisa, que deve ser realizada em julho, é que os dados poderão ser confirmados. “Na próxima leitura saberemos se o aumento das notas está ligado a euforia da população [com as mudanças trazidas pela pacificação] ou a melhora nos serviços”.

Fonte:Agência Brasil