CDHU promete casas para moradores de vila operária em São Paulo

Sem informações, sete famílias que permanecem na Vila Itororó, no centro, temiam despejo. Área será transformada em centro cultural e gastronômico

Maria Josefa: “com fé em Deus, eu vou trabalhar e comprar um terreno” (Fotos: Danilo Ramos)

São Paulo – Depois de semanas de apreensão, moradores da Vila Itororó, no bairro da Bela Vista, região central de São Paulo, receberam uma boa notícia. A Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) afirmou ontem (17) no fim da tarde que entregará até o final deste mês apartamentos no conjunto habitacional Bom Retiro C para cada uma das sete famílias que vivem local. 

“Para finalizar o atendimento  ao  público-alvo da Vila Itororó, por solicitação da prefeitura, a CDHU destinou mais 19 unidades no empreendimento Bom Retiro C, que está previsto para ser entregue até o fim de deste mês”, afirmou em nota. 

A informação foi dada em primeira mão à RBA. Uma reunião entre representantes da CDHU e da vila estava marcada para ontem, mas foi adiada para a próxima quarta-feira (19). A expectativa é que as autoridades confirmem para os moradores a informação dada para à reportagem, que se encarregou de repassá-la à líder comunitária Antônia Cândido, que vive no local há 30 anos. “Agora já até dá para pensar no Natal”, comemorou.

Vila foi construída entre 1921 e 1929 e ainda preserva parte do conjunto original

A vila foi construída entre 1921 e 1929 e desde os anos 1940 passou a ser ocupada por trabalhadores. Em dezembro de 2011, cerca de 70 famílias foram retiradas da área e transferidas para unidades habitacionais da CDHU. As remanescentes temiam ser despejadas do local antes de receberem atendimento definitivo.

Governo do estado e prefeitura pretendem demolir as casas improvisadas integradas ao projeto original e restaurar o conjunto arquitetônico parar transformá-lo em um centro cultural e gastronômico. O espaço abrigou a primeira piscina privada da cidade e algumas vigas usadas para sustentar o casarão, localizado no centro de complexo, são parte dos escombros do Teatro São José, o primeiro da capital.

Desde novembro, a emissão de posse para a prefeitura havia sido emitida. Com isso, os moradores podiam ser removidos a qualquer momento. Informações extraoficiais obtidas por eles davam conta de que os apartamentos prometidos para a primeira quinzena deste mês só seriam entregues em abril – até lá, estariam desamparados. “O que nós queremos é sair daqui com o atendimento, como aconteceu com as outras famílias. A gente não tem culpa se os apartamentos atrasaram”, afirmou a moradora Giovana Cândido Reubal, de 19 anos, todos vividos na Vila Itororó. 

"O que nós queremos é  sair daqui com o atendimento, como aconteceu com as outras famílias", afirma Giovana

O temor dos moradores era respaldado pelo posicionamento da Secretaria Municipal de Cultura, que afirmou via assessoria de imprensa que “uma vez concluída a transferência [da posse do terreno do estado para a prefeitura], o que está na iminência de ocorrer, as obras poderão ser iniciadas imediatamente, já que a licitação da obra já foi concluída”.

Os moradores afirmam que já haviam solicitado essas e outras informações à prefeitura e à CDHU, mas não obtiveram resposta.”Todo ano a gente pintava, reformava a casa. Esse ano nem fizemos isso porque a gente não sabia o que ia acontecer. Ficou nessa de despeja, não despeja”, lembrou Giovana.

Sempre em movimento

Josefa Maria Barbosa, de 50 anos, morou 14 anos na Vila Itororó. Antes vivia em Guaianases, zona leste da cidade, distante das casas em que trabalhava como empregada doméstica. Por isso, comprou a casa 10 da Vila, apesar da situação precária em que ela se encontrava. “Só tinha rato aqui. Não tinha nem telhado”, lembra. Maria foi transferida para um dos apartamentos da CHDU há exatamente um ano, mas voltou, ao lado da filha e da neta, para rever a casa onde viveram por tantos anos. “Tiraram a gente daqui para deixar desse jeito”, lamenta diante do mato que cresce em torno do local onde criou os filhos. 

Mas dentro do pequeno cômodo ela elenca os benefícios na nova moradia. “Eu tenho saudade, mas onde a gente está agora é melhor. É novo, limpo. Tudo organizado. E está no nosso nome.” Mesmo assim, não se priva de apontar as desvantagens. “Aqui era muito bom, a gente podia fazer churrascos, festas. Esse cômodo é maior que o que o apartamento que estou morando agora”, relata sobre o apartamento para o qual terá de pagar por mês cerca de R$ 104 reais de prestação pelos próximos 25 anos, mais condomínio.  “Lá é minúsculo. Mas, com fé em Deus, eu vou trabalhar e comprar um terreno”, diz, projetando um futuro melhor.