Catadores temem prejuízo com medida antienchente anunciada por Haddad

Prefeitura vai solicitar às concessionárias de lixo a instalação de contêineres em bairros com comércio intenso. Categoria quer se integrar à coleta

Passagem agendada de veículos de cooperativas e catadores poderia evitar problemas relacionados à chuva (Foto:Devanir Amâncio/ Flickr)

São Paulo – Catadores receberam com desconfiança medida anunciada ontem (2) pelo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), dentro do conjunto de medidas para prevenir deslizamentos e enchentes na cidade. A ideia é solicitar às concessionárias de lixo a instalação de contêineres em pontos estratégicos nas regiões do Brás, Bom Retiro, Santa Efigênia, 25 de Março e Pari para o despejo de resíduos dos comércios locais.

“O lixo muitas vezes é depositado nas calçadas e nas ruas à espera dos catadores. E, muitas vezes, quando as chuvas caem, não há tempo suficiente de as empresas coletarem esse lixo ou de os catadores o recolherem para a reciclagem. Então nós vamos estudar a possibilidade de solicitar às concessionárias a instalação de contêineres específicos para que o lixo comercial seja depositado conteinerizado, para que o recolhimento se dê de forma mais eficaz”, disse ontem (2) o prefeito, em seu primeiro dia útil de trabalho.

Para os catadores, a medida pode ser prejudicial, já que o acesso a materiais como o papelão, farto na região apontada, pode ser afetado. “Se ele for colocar, tem de ser dois contêineres. Um para os recicláveis e outro para os não recicláveis. Aí, sim, a coisa muda. Agora, se for misturado, atrapalha”, avalia o coordenador do Movimento Nacional de Catadores, Eduardo Ferreira de Paula.

Ele acredita que é possível compatibilizar a prevenção a enchentes e o trabalho dos catadores, integrando as cooperativas no esquema de coleta. “Na região da 25 de Março, a maioria dos catadores não está cooperada. Mas eles poderiam marcar para buscar o material. Já as cooperativas têm veículos e poderiam passar lá em um horário pré-determinado”, aponta. “O que nós queremos é estar dentro do processo de coleta seletiva”, disse, acrescentando que vai sentar com o secretário de Obras, Simão Pedro, e conversar sobre esse tema. “A discussão vai facilitar tanto para a cidade de São Paulo quanto para os catadores”, anseia.

Além de integrar os catadores, atualmente responsáveis pela maior parte da coleta seletiva realizada na cidade, a medida precisa atender às exigências da política nacional de resíduos sólidos. A especialista do Instituto Pólis, Elisabeth Grimberg, lembra que a responsabilidade pela coleta de materiais secos, no caso de empreendimentos que produzem mais de 200 litros por dia, é dos geradores. Dessa forma, quem deve arcar com os custos de instalação dos contêineres são os comerciantes, e não a prefeitura. No caso do lixo doméstico e de empreendimentos que produzem menos de 200 litros, a responsabilidade pela destinação adequada dos materiais recicláveis é dos fabricantes. “A prefeitura é responsável apenas pelos resíduos úmidos e pelo rejeito”, explica.  

Apesar de a Política Nacional de Resíduos Sólidos ter sido sancionada em 2010, a forma como a coleta vai ser feita ainda não está definida. “Isso ainda está sendo estudado, mas quem paga a conta são os geradores. A prefeitura pode apontar as diretrizes gerais de como vai ser feito”, analisa Elisabeth.

Procurada para dar mais detalhes sobre as medidas, a Secretaria de Obras não respondeu até a publicação dessa reportagem.