Catadores criticam Kassab por barrar expansão da coleta seletiva

Parlamentares e catadores criticam política municipal que impõe restrição ao trabalho das cooperativas

Durante movimento de catadores, cartaz afirma: “Deus recicla, o diabo incinera” (Foto: Jéssica Santos Souza/RBA)

São Paulo – Catadores de materiais recicláveis protestaram na manhã desta quarta-feira (11) na capital paulista contra as restrições do serviço de coleta seletiva de lixo. Integrantes do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) caminharam da Câmara de Vereadores em direção à sede da administração municipal, gritando palavras de ordem com críticas ao prefeito Gilberto Kassab (DEM).

Entre as acusações contra a gestão municipal, estão a de estabelecer restrições ao trabalho das cooperativas. Das 104 entidades ligadas ao movimento, apenas 17 estão regulamentadas. Além disso, a prefeitura poderia oferecer terrenos para a alocação de centrais de triagem, segundo os ativistas, mas não tem agido nesse sentido.

Ao final do protesto, em frente ao gabinete do prefeito, os catadores solicitaram reunião com representantes da gestão municipal, mas não foram atendidos. A prefeitura sugeriu que buscassem a Secretaria Municipal de Serviços. Uma comissão se dirigiu ao órgão para protocolar documento com as reivindicações do movimento.

Cooperativas

“Catador organizado não será pisado”, gritavam os manifestantes. Além de palavras de ordem, Kassab foi vaiado pelos manifestantes. Segundo a Polícia Militar, 200 pessoas participaram da manifestação. Os organizadores calculam em 250 o número de participantes.

Para René Ivo Gonçalves, secretário-executivo do Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, as dificuldades de regularização das cooperativas envolvem a forma como os editais de licitação para contratação são feitos. “O edital é prejudicial para as cooperativas, porque elas não conseguem dar conta das exigências previstas”, explica.

Durante o protesto, o vereador Ítalo Cardoso (PT) apontou contradições na política de meio ambiente da capital paulista. “É impossível pensar numa cidade que aprova projetos de lei para melhorar a qualidade do ar e de vida, e que ao mesmo tempo não consegue instruir a sua população a reciclar o lixo. É impressionante a quantidade e a riqueza do lixo de São Paulo”, analisa o parlamentar.

Incineradores

Os catadores também criticam o que consideram como intenção da administração de instalar incineradores de lixo, reduzindo as possibilidades de geração de renda para esses trabalhadores. Um cartaz demonstrava o espírito do protesto: “Deus recicla, o diabo incinera”. Segundo o deputado estadual Adriano Diogo (PT), o governo Kassab “destruiu a organização das cooperativas e a possibilidade da reutilização dos materiais captados por elas”.

Para Mara Lúcia Sobral, de uma cooperativa sediada na Granja Viana, o problema da incineração são as consequências para o meio ambiente e para a saúde humana. “Ela causa câncer, polui e acaba com os recursos naturais do planeta”, detalha. De acordo com Cardoso, “alguns tendem a achar que a melhor saída é a da incineração, mas na verdade ela é mais perigosa, a curto, médio e longo prazo.

Em outros municípios, segundo os ativistas, há políticas mais adequadas no tratamento da coleta, bem como das pessoas que trabalham na separação de materiais recicláveis. Segundo Joana D’Arc Pereira Costa, integrante de uma cooperativa de Ribeirão Pires (SP), a prefeitura local ofereceu duas áreas, uma para armazenamento e outra para triagem. Ainda garante um caminhão para a coleta seletiva porta-a-porta.

Trabalho

“Eu estava desempregada antes de trabalhar com isso”, descreve Joana D’Arc. Ela conta que começou separando o lixo que recolhia nas ruas e guardando em casa mesmo para vender. “Depois, fiz um curso com mais duas amigas sobre cooperativismo e começamos a nos organizar”, relata.

Maria Elena Lisboa, que participa do protesto, conta que integra a Cooperativa Viva Bem, na Lapa, na zona oeste da capital, há seis anos. “A cooperativa ajuda muito no nosso sustento”, orgulha-se.  Ela é uma das fundadoras do empreendimento que hoje inclui 85 pessoas. Apesar de serem associados, eles recebem os mesmos benefícios de uma pessoa com carteira assinada, com um valor equivalente ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), férias remuneradas etc.