Chuva leva o caos ao RJ, com mortes e desabamentos

Governador do estado e prefeito da capital orientam população a permanecer em casa. Ambos classificaram a situação como de caos total

Chuva forte na cidade do Rio de Janeiro deixa ruas alagadas no bairro do Maracanã (Foto: Celso Pupo / Fotoarena/Folhapress)

São Paulo – O temporal que atingiu parte do estado e a região metropolitana da cidade do Rio desde a noite da segunda-feira (5) por 12 horas sem parar, já deixou ao menos 102 mortos, segundo informou o Centro de Operações do Corpo de Bombeiros na manhã desta quarta-feira (7). Niterói, na região metropolitana da capital fluminense, já registrou 48 vítimas fatais.

Foram registrados 180 deslizamentos e há ainda muitos desaparecidos, mas não foram divulgados estimativas de pessoas nessas condições. Três pessoas morreram no desabamento de uma casa no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, e uma mulher, de 80 anos, foi soterrada quando a casa em que morava desabou na rua Leopoldo, subida do morro do Andaraí, também na zona norte.

O número de mortes com as últimas chuvas supera a tragédia do Réveillon, que matou 52 pessoas em deslizamentos de terras no município de Angra dos Reis, no sul fluminense.

A maioria das mortes ocorreu na capital, disseram os bombeiros, sem precisar o número. Outras cidades afetadas foram Niterói, São Gonçalo e Nilópolis. “Removemos pelo menos 40 feridos para hospitais do estado, além de atendimentos feitos no próprio local. Há ainda diversos desaparecidos e o nosso efetivo está todo mobilizado”, disse o sargento Monteiro, do Departamento de Relações Públicas dos Bombeiros.

Já no final da tarde de segunda, muitos motoristas que saíam do trabalho ficavam presos no engarrafamento provocado pela inundação do rio Maracanã. Os bombeiros chegaram a usar botes salva-vidas para resgatar pessoas que ficaram ilhadas e até quem estava dentro de ônibus precisou ser resgatado.

O temporal veio acompanhado de forte ventania, que chegou a registrar mais de 70 quilômetros por hora na altura do Forte de Copacabana. Por medida de segurança, a prefeitura resolveu interditar a Estrada Grajaú-Jacarepaguá nos dois sentidos, devido a um deslizamento de terra na noite passada.

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) fechou as pistas da Ponte Rio-Niterói, sentido Rio, por causa dos alagamentos na chegada à capital. No sentido contrário, a orientação é para que os motoristas também não sigam em direção a Niterói ou São Gonçalo, em decorrência de muitos pontos de alagamentos e falta de luz registrados.

Na zona oeste, a situação ficou caótica com lixo espalhado pelas ruas, que permanecem alagadas. Poucos ônibus estão circulando e alguns fazem um trajeto totalmente diferente para poder chegar ao destino. As aulas na rede pública foram suspensas.

O temporal também derrubou árvores e comprometeu o fornecimento de energia em vários pontos da cidade. O Tribunal de Justiça do Estado teve que cancelar as audiências marcadas para os fóruns da cidade. Outros órgãos públicos suspenderam os serviços.

Trabalhadores passaram horas dentro de ônibus na noite de segunda-feira sem conseguir voltar para casa devido a alagamentos. Pontos de ônibus ficaram abarrotados de pessoas que não tiveram transporte durante toda a madrugada. E a situação se repetiu na manhã de terça.

Intensidade

A chuva está sendo considerada a mais intensa já registrada na cidade nas últimas décadas, e a previsão é de que permaneça durante todo o dia. Muitas pessoas não conseguiram retornar para suas casas na segunda-feira, pois o transporte público foi afetado devido a áreas de alagamento registradas em diversas partes da capital e região metropolitana. O trânsito ficou caótico.

“A situação é crítica. São vias muito alagadas e paradas. A orientação para as pessoas é que não saiam de casa e evitem deslocamentos”, disse por telefone à Reuters o prefeito Eduardo Paes (PMDB), na manhã de terça.

Em entrevista posterior, o prefeito informou que em menos de 24 horas choveu em média 288 milímetros na cidade, e que havia pelo menos 10 mil residências em locais de risco, principalmente em morros e favelas. De acordo com o instituto de meteorologia Climatempo, num período de 12 horas entre segunda e terça-feira choveu o que estava previsto para todo o mês de abril.

Lojas fechadas

As principais ruas do centro da capital fluminense tiveram movimento bastante reduzido e grande parte do comércio não abriu. Não houve pontos de alagamentos em avenidas como Rio Branco e Presidente Vargas, principais vias do centro.

Agências bancárias, lojas e restaurantes, entre outros estabelecimentos, estão fechados. Nas poucas lanchonetes e padarias que abriram, o movimento é pequeno. Porteiros de edifícios comerciais contaram que algumas empresas suspenderam as atividades hoje e poucas pessoas estão trabalhando nos prédios.

A Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ) recomendou aos empresários do comércio de bens, serviços e turismo que abonem a falta de seus funcionários hoje, priorizando a segurança devido ao caos gerado pela forte chuva nas últimas horas no Rio. A recomendação, segundo a Fecomércio, foi feita conforme o pedido das autoridades municipais e estaduais para que a população permanecesse em casa.

Alto risco

A Defesa Civil Municipal do Rio de Janeiro classificou como muito alto o risco de deslizamento de encostas em toda a cidade. Este é o mais elevado dos quatro níveis adotados pela Defesa Civil.

A Geo-Rio, empresa municipal responsável pela manutenção das encostas no Rio de Janeiro, ainda não tem um balanço sobre o total de deslizamentos registrados na cidade. Mas os principais casos foram registrados na região da Tijuca, na zona norte da cidade, onde sete pessoas morreram soterradas ou em deslizamentos e desabamentos.

Com informações da Agência Brasil e Reuters