Conselho da USP emperra debate sobre adoção de cotas no vestibular

Maior órgão colegiado da universidade deveria criar comissão voltada ao estudo de eventuais fórmulas para a reserva de vagas a negros e alunos da escola pública

São Paulo – Um mês e meio depois de afirmar que pretendia ampliar o debate sobre a adoção de cotas em seu vestibular, a Universidade de São Paulo (USP) em nada avançou sobre o tema. Em reunião no dia 25 de setembro, o Conselho Universitário (CO) informou que criaria uma comissão para organizar debates sobre inclusão social na instituição, além de um grande seminário para discutir a adoção das cotas. No entanto, não houve movimento algum para compor tal comissão.

Para Frei David Santos, coordenador-geral da Educafro, rede de pré-vestibulares comunitários voltada para jovens pobres e negros, a instituição propôs esses debates para ganhar tempo. “São 13 anos de omissão por parte da USP e agora essa vagareza nas discussões. Todo o Brasil tem avançado neste debate, mas em São Paulo as universidades estaduais agem como se fosse uma coisa nova”, indigna-se frei David. Para ele, o governo de São Paulo deveria tomar a atitude de pressionar os reitores sobre a questão.

Além disso, uma audiência de conciliação entre USP, Educafro e o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), marcada para 16 de outubro, foi cancelada a pedido da universidade. Essa audiência é relativa a uma ação judicial movida em 2004, pelas duas entidades, com objetivo de obrigar a USP a criar “um índice eliminador de injustiça social e educacional”, que bonificaria brancos pobres, negros e indígenas na seleção da Fuvest.

Segundo Frei David, a instituição alegou não haver a necessidade da audiência, visto que está aberto o processo de discussão sobre a adoção de cotas. Ele pediu aos desembargadores a remarcação da audiência e, caso a USP não compareça, que seja votado o mérito da questão. O pedido ainda está em apreciação.

Passados 43 dias da reunião, segundo a assessoria de imprensa da USP, não houve criação de qualquer comissão do Conselho Universitário para discutir o tema. Além disso, a assessoria não soube informar se houve algum debate nas unidades, alegando que esta deve ser uma iniciativa das próprias, o que contraria a proposta do CO, de “promover amplo debate”. Na mesma nota, a assessoria informou que o grande seminário será realizado no dia 4 de dezembro, no auditório da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia.

O único debate sobre o tema após a reunião do Conselho foi na Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP) da USP, organizado em parceria pelo Centro Acadêmico Antônio Junqueira de Azevedo (CAAJA) com o Diretório Central dos Estudantes (DCE-Livre) da USP.