Memória paulistana

Atividades na região central de São Paulo buscam lembrar o ‘santo dos excluídos’

Movimentos ressaltam presença negra no bairro da Liberdade, na região central da capital

Cecília Bastos/USP Imagens
Cecília Bastos/USP Imagens
A pequena Capela dos Aflitos fica perto da Praça da Liberdade, que antes era chamada de Largo da Forca

São Paulo – Três dias de atividades, que se encerram na segunda-feira (20), buscam lembrar o chamado “santo dos excluídos”, conhecido como Chaguinhas, morto há 200 anos. Segundo a União dos Amigos da Capela dos Aflitos (Unamca), no bairro da Liberdade, região central de São Paulo, o evento começaria neste sábado (18) com novena e peregrinação por nove igrejas históricas. No domingo, às 11h, haverá uma missa afro-brasileira. E o evento se encerra na noite de segunda, com cortejo, terminando no mesmo local – a pesquisa igreja do século 18.

Segundo os organizadores, em 1821 o cabo Francisco José das Chagas, o Chaguinhas, e o soldado José Cotindiba foram condenados à morte por liderar uma revolta reivindicando direitos iguais entre militares brasileiros e portugueses. A sentença foi cumprida no então Largo da Forca, atual Praça da Liberdade. Perto do Cemitério dos Aflitos, “no qual
eram sepultadas, desde 1775, as pessoas perseguidas e marginalizadas pelo regime escravista”. O cemitério foi desativado em 1858, quando o da Consolação foi inaugurado. No mesmo ano, o Largo da Forca ganhou o nome atual.

Ainda de acordo com o relato, na primeira tentativa de enforcamento de Chaguinhas, com manifestantes pedindo sua liberdade, a corda arrebentou. Isso teria acontecido também com a tira de couro vinda de um açougue. Assim, apenas na terceira tentativa a execução se consumou.

Novena, missa e cortejo

A novena começou às 10h deste sábado, saindo da Igreja de Santa Ifigênia. No domingo, às 11h, será a vez da missa afro-brasileira, no Beco dos Aflitos, com arrecadação de alimentos não perecíveis. E a missa de ação de graças, no mesmo local, às 12h de segunda, também contará com arrecadação de alimentos. Às 18h30, sai um cortejo da Câmara Municipal. O Legislativo paulistano também fará uma audiência pública virtual na quarta-feira (22), às 11h, para discutir a lei de 2018 que adicionou a palavra “Japão” ao nome da Praça da Liberdade. Outra lei, esta de 2020, criou o Memorial dos Aflitos, a ser construído em local onde foram descobertas ossadas, tamb´´em em 2018.

Segundo a Arquidiocese de São Paulo, as capelas dos Aflitos e dos Enforcados, próxima, têm missas rezadas pelo mesmo padre. “Reza a tradição que os escravos, vindos dos baixos do Carmo, da várzea do Tamanduateí, subiam a (rua) Tabatinguera. Paravam estatelados na Igrejinha da Boa Morte. Seguiam ao pelourinho, ali no atual Largo sete de setembro. Viam o suplício dos seus irmãos de cor e destino. Seguiam, não raras vezes, até o Largo da Forca (atual Liberdade), mais ou menos onde hoje situa-se a Capela dos Enforcados. Nesta paragem baloiçavam os corpos inanimados dos escravos condenados à morte certa. Seus irmãos de cor e sorte, desciam aos Aflitos. E ali compartilhavam a dor de uma vida sem esperanças. Eis a origem humilde e plangente da Capelinha de Nossa Senhora dos Aflitos.”