história e luta

Ato em São Paulo pede criação de território sagrado da negritude

Igreja no bairro da Liberdade é vizinha de terreno onde nove ossadas de pessoas escravizadas foram localizadas no começo deste mês

TVT/REPRODUÇÃO

Capela dos Aflitos foi o primeiro cemitério público da capital paulista ativo entre os séculos 18 e 19

São Paulo – Movimentos sociais e coletivos negros realizaram, nesta quarta-feira (19), um ato público seguido de celebração ecumênica “Em Memória dos Aflitos e Respeito aos Mortos” na Capela dos Aflitos, localizada no bairro da Liberdade, centro de São Paulo. A igreja é vizinha do terreno onde nove ossadas da época da escravidão foram localizadas no começo deste mês

A Capela dos Aflitos foi o primeiro cemitério público da capital paulista ativo entre os séculos 18 e 19, onde negros escravizados, condenados e outras pessoas marginalizadas eram enterradas. O prédio fica ao lado de uma obra, onde foram encontradas nove ossadas da época da escravidão. Lúcia Juliani é uma das arqueólogas responsáveis pelas escavações. “Nós encontramos essas ossadas, em uma delas a gente encontrou dois fios de conta junto ao pescoço, então era um africano”, conta, à repórter Michelle Gomes, da TVT.

A área, de 400 metros quadrados, localizada entre as ruas Galvão Bueno e dos Aflitos, atrás da Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, é uma propriedade particular e até o início deste ano abrigava um prédio. A proprietária do espaço decidiu demolir o edifício por causa de problemas estruturais e construir um novo empreendimento comercial no local.

Apesar da descoberta, as obras do empreendimento comercial continuam a todo vapor. Os manifestantes reivindicam o tombamento da área e a preservação da capela – um dos poucos patrimônios da história negra que resistem ao apagamento. “A partir da descoberta de nove ossadas, podendo ter até mais, estamos fazendo esse movimento para a criação do primeiro território sagrado negro, na cidade de São Paulo”, explica o secretário nacional de Direitos Humanos do PT, Adriano Diogo.

Thiago Braziel, coordenador da políticas públicas da Educafro explica que o bairro da Liberdade era um local que comercializava pessoas escravizadas, principalmente a população negra. “Aqui é uma rota de escravo que nós conhecemos através das igrejas. Essas igrejas já remontam para nós um memorial de que sempre existiu aqui situações ligadas à escravatura na cidade de São Paulo”, explica.

As ossas estão sendo tratadas no laboratório da A Lasca, passando por uma limpeza, curadoria e análise, até a entrega dos objetos para Departamento do Patrimônio Histórico, órgão da Secretaria Municipal de Cultura.

Assista à reportagem do Seu Jornal, da TVT

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