Violência

Polícia leva artista plástica algemada por fazer topless em praia

Ana Beatriz Coelho é ex-namorada de Camila Pitanga e protesto da atriz nas redes sociais contra detenção rendeu milhares de mensagens de apoio

Reprodução/Instagram
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Beatriz Coelho, algemada. “O mais irônico é que ao meu lado na delegacia tinha um homem aguardando sem camisa. Nem dentro de uma delegacia um homem precisa estar vestido”

São Paulo – “O que pode acontecer com uma mulher que faz topless no Brasil?”, questiona a artista plástica Ana Beatriz Coelho, detida no sábado (29) por tomar sol sem blusa ou a parte de cima do biquíni, numa praia de Vila Velha, no Espírito Santo. Conforme descreveu a artista em suas redes sociais, os policiais foram acionados por moradores da região. Após mais de três horas em que ela e uma amiga faziam o topless, elas foram abordadas por dois homens. “Os policiais chegaram após as 17h, quando as pessoas estavam indo embora”, lembra Beatriz Coelho. “Solicitamos uma (policial) mulher e com ela chegaram mais uns três policiais e duas viaturas.”

Elas acabaram sendo levadas para a delegacia pelos policiais que as abordaram e sem a guarda feminina: “Lidamos o tempo inteiro com homens completamente despreparados”.

Tanto que a artista plástica e sua amiga foram algemadas. “O mais irônico é que ao meu lado na delegacia tinha um homem aguardando sem camisa. Nem dentro de uma delegacia um homem precisa estar vestido”, comparou.

Machismo e homofobia

A atriz Camila Pitanga, ex-namorada e amiga de Beatriz Coelho, postou nas redes sociais sua solidariedade. E protestou contra a “violência policial claramente motivada pelo machismo e homofobia”. O uso de algemas foi considerado por Camila Pitanga “absurdo e constrangedor”.

O post da atriz rendeu milhares de comentários indignados com a situação e viralizou. Muitas pessoas questionavam o papel da polícia diante da real insegurança vivida nas praias pelos banhistas. Diante da ação desmedida, Beatriz Coelho relata, ainda, a maneira como foram tratadas na delegacia. “Afirmaram que (algemar) era um procedimento padrão (ferindo a súmula vinculante 11 e cometendo ato ilícito)”, denuncia. “Questionamos pelo fato de não estarmos resistindo e não apresentarmos nenhum risco, ele se irritou e disse que já estava sendo legal com a gente porque só estava algemando os pés e não as mãos e os pés como deveria fazer.”

Para a advogada Luanda Pires, o trato policial nesses casos deve ser pacífico, desde a abordagem até a condução. “E se a pessoa não se mostra resistente ou violenta, não há motivo para fazer uso de algemas”, disse, em reportagem do Universa UOL.

Não é crime, mas pode dar prisão

CEO da P2 InterDiversidade e vice-presidente do Me Too Brasil, ela explica que a prática de tomar sol sem a parte de cima do biquíni, com os seios à mostra, não é crime no Brasil. Mas pode levar à prisão. Isso porque pode ser entendido como ato obsceno, crime tipificado pelo artigo 233 no Código Penal. Nesse caso, a pena pode ser de detenção, de três meses a um ano, ou multa. “O artigo, no entanto, não explica exatamente o que é um ato obsceno, e deixa a cargo do agente público a interpretação disso”, diz à reportagem. “E, se esse episódio virar uma ação criminal, caberá ao juiz definir se vai ou não entender o topless como um ato obsceno.”

A advogada critica essa forma de avaliação. “Ao deixar a interpretação de determinada ação a cargo do agente público, em uma sociedade que é sexista, que constrói seus princípios baseados na desigualdade de gênero, prejudica e expõe muito mais as mulheres.”