Violência

PM prende e agride artista durante protesto indígena em São Paulo

Djan Ivson resistiu a abordagem policial. Soldados quiseram ver sua mochila porque estava trajado como black bloc. 'Todo mundo que estiver assim pode ser revistado', diz major

Pedro Watanabe

Pixador é conhecido por seu trabalho nas ruas de São Paulo e em exposições internacionais

São Paulo – Um renomado pichador e documentarista de São Paulo, Djan Ivson Silva, com participação em bienais de arte dentro e fora do país, foi preso e espancado pela polícia na noite de ontem (2) na Avenida Paulista. O jovem estava na manifestação convocada por índios guarani e quilombolas do estado de São Paulo para protestar contra projetos de lei que ameaçam direitos das populações tradicionais garantidos pela Constituição.

A detenção ocorreu logo no início da passeata, por volta das 18h, em frente ao Conjunto Nacional, depois de o jovem, também conhecido como Cripta Djan, ter resistido a uma abordagem policial. Soldados quiseram revistá-lo porque ele aparentava ser um black bloc, grupo que tem sido demonizado por suas ações diretas contra símbolos do capitalismo, como agências bancárias e concessionárias de automóveis.

“Abordamos porque ele estava trajado como black bloc, com roupa preta, capuz e máscara. Para nós, é um perfil que já cometeu vários crimes aqui na cidade de São Paulo, várias depredações e atos de vandalismo”, explicou à RBA o major Rogério Guidette, chefe da operação.

“Ele estava com uma mochila e a gente pediu pra ver o que ele tinha dentro. Ele começou a espernear, a se debater, e não quis permitir que o policial fizesse a abordagem. Aí a situação acabou nisso”, continua o oficial, afirmando que Djan tinha latas de spray na mochila. “Não é proibido ter spray, mas é proibido resisitir.”

“Me prenderam por nada, só porque eu estava carregando umas latas de tinta. Mas eu não tinha pichado nada”, disse Djan, momentos antes de entrar na viatura. “Eu estava só andando. Está tudo filmado. Eles pediram para revistar minha mochila. Me bateram pra caramba. Estou apanhando até agora.”

De acordo com o major Guidette, apesar de não existir nenhuma lei nesse sentido, qualquer pessoa que está “vestida como black bloc” é passível de sofrer abordagem da PM durante manifestações. “Se a pessoa resiste à abordagem, ela deverá ser conduzida para o Distrito Policial. Quem não deve não teme.”

Um jovem que estava ao lado do pichador no momento da prisão oferece uma versão alternativa à da polícia. “Ele realmente estava vestido de preto, mas não resistiu. Já foram dando com cassetete, como sempre fazem.”

Depois de ser rendido e jogado no chão, Djan foi espancado pelos policiais. A reportagem viu o pichador, já imobilizado, levando vários chutes enquanto uma barreira de soldados com escudos impedia a aproximação dos demais manifestantes.

“Eu não vi”, negou o major Guidette ao ser questionado pelo procedimento irregular de seus subordinados. “Se você viu, vai lá na delegacia e dá seu depoimento. Faz parte da vida. Mas a polícia não está aqui para agredir.”

Djan é um dos pichadores mais conhecidos do Brasil, e seu trabalho tem ganhado repercussão internacional. Já participou da Bienal de Arte de São Paulo e da Bienal de Berlim, na Alemanha. Também teve passagem por exposições da Fundação Cartier, na França, e deu entrevistas ao New York Times e National Geographic. É também documentarista. Muitas de suas imagens integram o documentário Pixo, dirigido pelo fotógrafo João Wainer.

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