Fogo e tiros

Natal vive terceira noite de violência. Ministério da Justiça autoriza intervenção nos presídios

Em reação a condições indignas nos presídios, ataques contra ônibus e estações de trens provocam suspensão parcial do transporte público em Natal

Arquivo pessoal/Twitter
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Após novos ataques contra o transporte público, ônibus de Natal retornaram às garagens

São Paulo – O Rio Grande do Norte teve a terceira noite e madrugada consecutiva de violência com ataques na capital, Natal, e pelo menos outras cinco cidades nesta quinta-feira (16). Os atentados ocorrem mesmo após a chegada de 100 homens da Força Nacional para reforçar a segurança do estado. Ainda ontem, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) autorizou intervenção federal nos presídios potiguares pelo período de 30 dias.

Pela manhã, um ônibus foi incendiado no bairro Guarapes, na Zona Oeste de Natal, após motorista e passageiros serem retirados do veículo. Uma estação de trem no bairro Nova Natal teve vários obstáculos colocados sobre a linha férrea. As operações de ônibus e trens na capital potiguar foram parcialmente suspensas.

Ainda no fim da noite de quarta-feira (15), os criminosos atearam fogo em um supermercado do município de São Gonçalo do Amarante. Não há informações sobre feridos. Além disso, veículos foram queimados nos municípios de São Paulo do Potengi e João Câmara.

Em Macau, o prédio das marisqueiras foi incendiado. Em Caicó, tiros foram disparados contra a Câmara Municipal e houve incêndio de ônibus.

Intervenção oficial

Desde a madrugada de terça-feira (14), o Rio Grande do Norte vive uma onda de ataques violentos supostamente comandados de dentro das cadeias, em protesto contra as condições dos presos nas penitenciárias. Pelo menos 29 cidades do estado registraram ocorrências como tiros e tentativa de incêndio contra prédios públicos, estabelecimentos comerciais e veículos particulares e públicos.

De acordo com último balanço divulgado pelo governo do estado, 39 suspeitos foram presos e cinco pessoas morreram.

Em edição extra do Diário Oficial da União desta quarta-feira, o MJSP autorizou o emprego da Força-Tarefa de Intervenção Penitenciária (FTIP) no estado do Rio Grande do Norte. A força-tarefa irá coordenar os serviços de guarda, de vigilância e de custódia de presos.

De acordo com a portaria, “a operação terá o apoio logístico e a supervisão dos órgãos de administração penitenciária e segurança pública do ente federado solicitante”. O número de profissionais envolvidos obedecerá o planejamento definido entre o MJSP e o governo do Rio Grande do Norte.
Em nota, o Ministério explicou ainda que a “ação não configura o instituto da intervenção federal no estado do Rio Grande do Norte e presta-se a amparar técnica e juridicamente as atividades de cooperação integrada de apoio ao estado potiguar”.

Averiguação

Antes disso, o ministro da Justiça, Flávio Dino, já havia anunciado a autorização do envio de 220 agentes da Força Nacional e da Força de Intervenção Penitenciária para conter os ataques violentos e reforçar a segurança na região. Segundo o ministro, o governo enviará quantos membros da Força Nacional forem necessários para controlar a situação no Rio Grande do Norte.

Na madrugada de ontem, cerca de 100 agentes da Força Nacional chegaram a Natal para auxiliar as forças locais de segurança pública no combate aos ataques criminosos. Uma das primeiras ações da tropa foi garantir a saída de ônibus das garagens na região metropolitana da capital.

Segundo a Secretaria de Segurança estadual, as ordens para os ataques teriam partido de dentro da Penitenciária de Alcaçuz, a maior unidade prisional do estado, localizada em Nísia Floresta, na Grande Natal. A onda de violência tem relação com uma união de facções que reivindicam mudanças nas condições nos presídios do estado, segundo investigações do Ministério Público potiguar.

Durante inspeções realizadas em novembro de 2022, o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), apontou tortura física e psicológica, com castigos, fornecimento de comida estragada e contaminação proposital por tuberculose nas penitenciárias.

A governadora Fátima Bezerra (PT) afirma que vai investigar as denúncias.

Com g1, Agência Brasil e Folha de S.Paulo