Na fronteira, a luta de um procurador para investigar crimes da ditadura

Porto Alegre – O procurador da República em Uruguaiana Ivan Cláudio Marx busca, desde 2008, provas sobre a participação de forças repressoras brasileiras no sequestro do padre argentino Jorge Oscar Adur […]

Porto Alegre – O procurador da República em Uruguaiana Ivan Cláudio Marx busca, desde 2008, provas sobre a participação de forças repressoras brasileiras no sequestro do padre argentino Jorge Oscar Adur e do ítalo-argentino Lorenzo Ismael Viñas, em 1980, quando atravessavam a ponte que liga Paso de los Libres, na Argentina, a Uruguaiana, no Brasil. 

A dificuldade, no caso, é de encontrar provas concretas da colaboração da ditadura brasileira com a da Argentina no sequestro, dentro da cooperação entre ditaduras sul-americanas que ficou conhecida como Operação Condor. Agora, Marx está mais confiante. Na sexta-feira (27), ele recebeu a visita de Pablo Vassel, integrante do Judiciário argentino e especialista nos crimes de lesa-humanidade, que se deslocou de Buenos Aires até a cidade da Fronteira Oeste disposto a colaborar.

“O grande objetivo, que agora talvez fique mais fácil de atingir, é conseguir, dentro dos vários processos que existem sobre crimes de lesa-humanidade na Argentina, algum testemunho a respeito do momento do sequestro. O que falta à investigação é comprovar que este sequestro ocorreu aqui (em território brasileiro)”, explica Ivan Marx. O procurador conta que já havia feito vários contatos com autoridades argentinas, mas nada tão efetivo.

Pablo Vassel retorna à capital argentina, onde vai agendar encontros entre Marx e dois juízes argentinos que são os principais responsáveis por julgamentos de crimes de lesa-humanidade em solo portenho, e também com outras autoridades. “Eu não posso ficar oficiando a Argentina para me enviar todos os processos existentes e depois analisar tudo para ver onde tem algo sobre o sequestro. Preciso que eles me ajudem”, disse o procurador brasileiro. Além de buscar provas de que ocorreu o sequestro em solo brasileiro, o procurador também quer saber quem participou da ação. “Falta determinar se foi a polícia federal, a policia civil, ou o próprio Exército”.

Itália provocou investigação

O caso de Lorenzo Viñas, que é cidadão italiano, está sendo investigado pela justiça italiana desde 1998. A Itália requereu em 2007 a extradição de vários agentes da repressão no Rio Grande do Sul e em outros estados, devido à participação do estado brasileiro nas mortes de dois italianos – além de Viñas, outro ítalo-argentino, Horacio Domingo Campiglia, foi visto pela última vez no dia 12 de março de 1980, no aeroporto do Galeão, Rio de Janeiro (atual aeroporto Tom Jobim). Como o Brasil não extradita cidadãos brasileiros, os princípios de justiça internacional mandam que então o país deve tocar a investigação.

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