Direito à informação

Lula recebe editores do WikiLeaks e manifesta apoio à liberdade de Julian Assange

“Que Assange seja solto de sua injusta prisão”, afirma Lula sobre jornalista que pode ser deportado do Reino Unido para os Estados Unidos e pegar 175 anos de prisão

Cláudio Kbene / Divulgação
Cláudio Kbene / Divulgação
Lula e os jornalistas do WikiLeaks: liberdade para um jornalista que cumpriu o seu dever de informar

São Paulo – O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se manifestou nessa terça-feira (28) em favor da liberdade do jornalista fundador do WikiLeaks, Julian Assange, que está preso no Reino Unido desde 2019 e pode ser deportado para os Estados Unidos. Lula recebeu em Brasília os jornalistas Kristinn Hrafnsson, editor-chefe e porta-voz do WikiLeaks, e o editor da plataforma Joseph Farrell.

“Estive com @khrafnsson, editor-chefe do WikiLeaks, e com o editor Joseph Farrell, que me informaram da situação de saúde e da luta por liberdade de Julian Assange. Pedi para que enviassem minha solidariedade. Que Assange seja solto de sua injusta prisão”, afirmou Lula em sua conta no Twitter.

Os jornalistas vieram ao Brasil como parte de viagem que realizam pela América Latina a fim de se reunir com lideranças políticas e sociais, movimentos, organizações e sociedade civil organizada que defendem a liberdade de Assange e denunciam as diversas violações dos direitos humanos, civis e políticos do jornalista.

A delegação do Wikileaks veio discutir, ainda, questões relacionadas à importância da liberdade de expressão e do direito à informação, valores que se qualificam como pilares da sociedade. “Os representantes do Wikileaks pretendem falar sobre os riscos que existem para a democracia e a liberdade de imprensa se Assange for extraditado para os Estados Unidos”, disse a Assembleia Internacional dos Povos (AIP), que coordena a viagem dos jornalistas.

Solidariedade e liberdade de expressão

Julian Assange vive uma dramática situação política e de saúde. Detido sem base legal na prisão de segurança máxima de Belmarsh, no Reino Unido, desde 2019, o jornalista e ativista australiano está prestes a ser extraditado para os Estados Unidos onde pode sofrer uma pena de até 175 anos em confinamento solitário.

Assange é acusado pelo governo estadunidense de violar a Lei de Espionagem de 1917. Ele foi responsável, por exemplo, pela publicação, entre 2010 e 2011, de documentos classificados revelando crimes de guerra e campos de tortura no Iraque e Afeganistão. A eventual condenação de Assange por essas publicações criminalizaria todas as etapas do processo jornalístico básico: solicitar, receber, possuir e publicar informações verídicas e de interesse público. A defesa do jornalista quer que os Estados Unidos retirem as acusações como forma de proteger a liberdade de imprensa em todo o mundo. Nesta quarta-feira (30), às 16h, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro, reúne as organizações jornalísticas para receber os editores do Wikileaks.

“Sem uma forte mobilização internacional, o jornalista Julian Assange não será libertado. Ao publicar no WikiLeaks milhares de documentos, fotos e vídeos que comprovam o envolvimento dos Estados Unidos e seus aliados na morte de inocentes e na espionagem em escala internacional, Assange cumpriu seu dever como jornalista. É por isso que a luta pela sua liberdade afeta a todos nós”, declara Giovani del Prete, da Assembleia Internacional dos Povos.

A ação do governo estadunidense contra Assange busca estabelecer um precedente mundial, uma vez que poderia exercer jurisdição extraterritorial sobre qualquer jornalista ou imprensa estrangeira, o que é alarmante. Os EUA indicaram que a Primeira Emenda à Constituição não se aplicaria a jornalistas estrangeiros, portanto, se o ativista for extraditado e processado, ele não se beneficiará de proteções constitucionais da liberdade de expressão em virtude de ser cidadão australiano.

A decisão de processar Assange foi universalmente condenada por grupos de defesa, liberdade de expressão, grandes jornais, políticos proeminentes e sindicatos, indicando que as ações que os Estados Unidos desejam impor são uma ameaça sem precedentes à liberdade de imprensa em todo o mundo.

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