PM com lado

Jornalista do ‘Brasil de Fato’ é detido ao acompanhar despejo em Curitiba

Pedro Carrano acompanhava despejo da ocupação Povo Sem Medo. PM, que não prendeu nenhum golpista acampado em quartel, impediu entrada da imprensa

MTST/Via BDF
MTST/Via BDF
Ocupação abriga 200 famílias desde 2021

São Paulo – O jornalista Pedro Carrano, do Brasil de Fato Paranáfoi detido na tarde desta terça (10) ao acompanhar despejo forçado da ocupação Povo Sem Medo, no bairro Tatuquara, em Curitiba. A informação é do site Brasil de Fato. Ele foi para a 3ª companhia do 13º Batalhão de Polícia Militar, que impedia a entrada de jornalistas e advogados na ocupação.

Em tentativa de conversa com a PM, no começo da tarde, Carrano alegou que era direito da imprensa acompanhar a reintegração de posse. A PM não acatou os pedidos e levou o jornalista para o porta malas da viatura, confiscando seu celular. A população no local vaiou a atitude da PM.

Brasil de Fato Paraná acompanha o despejo na ocupação Povo Sem Medo desde o início desta manhã. Pedro Carrano relatava em tempo real a situação no local. Ele conversou com o major presente na ocupação, questionando a proibição de entrada da imprensa. A justificativa, no início, seria a garantia da segurança dos jornalistas. Questionado se haveria, então, plano de despejo violento, o major afirmou “não depende de mim, depende dos outros atores.”

Ao chegar na delegacia, uma advogada que acompanha o jornalista desde a ocupação relatou estar impedida de entrar. A prisão sumária de um profissional de imprensa independente contrasta com a conduta da Polícia Militar do governador Ratinho Jr. em relação a outros episódios de extrema gravidade para a coletividade.

Pesos e medidas

Ontem (9), por exemplo, a polícia promoveu a desmobilização de 10 dos 13 acampamentos de bolsonaristas instalados no estado. Um deles em Curitiba, instalado desde o primeiro turno das eleições, em frente ao quartel do 5º Grupo de Artilharia de Campanha do Exército Brasileiro, no Boqueirão. Não houve prisões – contrariando determinação do Supremo Tribunal Federal –, apesar de os “acampados” afrontarem a lei e a ordem, pedindo golpe militar.

O governo alegou que optou pelo “diálogo” e não efetuou prisões por não haver resistência, embora a determinação de prisão por parte do Supremo tenha como base a afronta ao Estado de direito.

Além disso, torres de energia foram derrubadas e danificadas nesta terça no estado, sem que responsabilidades tenham sido identificadas. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) não descarta ações de sabotagem.

“Há indícios de vandalismo. Não foram identificadas condições climáticas adversas que possam ter causado queda de torres”, diz comunicado da Aneel. A agência pediu ainda que as empresas suspendam o fornecimento de energia a acampamentos “clandestinos de manifestantes” e identifiquem os “consumidores”. Ou seja, o órgão tem conhecimento de que os golpistas usurpem energia elétrica.

A Polícia Militar do Paraná, no entanto, reservou o rigor para outra ação. A ocupação Povo Sem Medo, onde vivem 200 famílias, amanheceu cercada pela PM com ordem de forçar o despejo. Segundo a organização da ocupação, o cumprimento da ordem teve início sem apresentação de um plano de realocação dos assentados nem acompanhamento dos órgãos de assistência social obrigatórios.

Pra onde elas vão?
Em que condição?

Mas um jornalista foi preso e teve seu celular tomado por policiais. O aparelho não chegou a ser manipulado nem danificado e foi posto sobre a mesa da delegacia diante do repórter, que levou 40 minutos para ter acesso a uma advogada. Enquanto isso, em Brasília, terroristas usavam ontem livremente seus aparelhos para postagens em redes sociais, inclusive de fake news.

Confira entrevista do jornalista Pedro Carrano, preso por acompanhar ação de despejo, no perfil do Brasil de Fato no Instagram.