Sem medo

Áurea Martins: ‘Se organiza, Brasil, você vai conseguir’

Cantora de 82 anos se diz triste com quem praticou violência, mas lembra estar do lado certo da História. “Imagina, pessoas que nasceram no mesmo torrão que nasci nos provocam pavor”

Reprodução/Facebook
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São Paulo – A cantora carioca Áurea Martins, 82 anos, teve insônia nesta noite. Os acontecimentos de Brasília atormentaram a veterana artista, que está lançando álbum (Senhora das Folhas) em que louva rezadeiras, mulheres indígenas, a natureza. Bem diferente do cenário atual. “Nunca tinha visto um Brasil assim. Doente, cheio de ódio, revolta, maldade. Confesso que fiquei apavorada. E muito triste”, escreveu, durante a madrugada.

“É incrível como estamos rodeados de gente má. A decepção com o ser chamado humano é algo que nunca pensei sentir”, prossegue Áurea, para em seguida falar sobre a intolerância.

“Sempre achei que termos nossas escolhas era alguma coisa dentro da normalidade. (…) Acho que cada um tem o direito de gostar de A ou B. Fui ensinada a respeitar o direito de ir e vir, ser ou não ser de cada um.”

Gerações futuras

“Quantas derrotas e vitórias tive na vida. Mas tanto uma como outra são desafio a se enfrentar. Imagina, pessoas que nasceram no mesmo torrão que nasci nos provocam pavor. Penso nas futuras gerações que, se não tomarmos as precauções necessárias, irão encontrar um Brasil destruído, como fizeram hoje nos lugares os quais devemos ter o maior respeito do mundo, seja eleito A ou B”, reflete Áurea.

“A única coisa boa que sinto nesse momento é a paz de consciência de saber que estou do lado certo da História. Graças a Deus. Vamos tentar arrumar a casa. No momento, sinto o meu país, que amo de paixão, atingido por um tsunami. E pensar que convivi esse todo junto a muitos que no fundo queriam quebrar minha cara, destruir minha cara, só porque acho que a democracia é o lado certo.”

No final, Áurea procura transmitir otimismo: “Se organiza, Brasil, você vai conseguir, mesmo a duras penas. Mas você vai conseguir. Assim como eu sobrevivi até 82 anos. Mesmo tendo meus vidros quebrados, meus direitos rejeitados, debaixo dos escombros, eu planejava ser isso que sou. Ter a minha ‘cara preta’ erguida. Sem medo de ser feliz.”