Governo anuncia nova etapa do censo da população lésbica
Levantamentos anteriores mostram que 80% das mulheres lésbicas já sofreram violência. Agora, o Ministério das Mulheres aprofunda os estudos
Publicado 07/01/2024 - 13h06
São Paulo – O Ministério das Mulheres anunciou o início da segunda fase do primeiro censo brasileiro da população lésbica. Trata-se de um aprofundamento de análises do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que, em 2023, lançou o primeiro levantamento oficial do tipo no país. Ele integra a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS). A conclusão é esperada para dezembro deste ano e o governo repassou R$ 250 mil para a concretização.
Entre os dados dos primeiros estudos desta população, está o de que 80% das mulheres lésbicas já sofreram algum tipo de violência.
Nesta etapa que começa ainda em janeiro, o governo pretende ouvir 135 pessoas de todos os estados. Além de perguntas básicas sobre a vida delas, este novo estágio pretende aprofundar a questão com roteiros flexíveis. Logo, o pesquisador pode abordar temas diferentes, de acordo com o andamento da entrevista. Assim, espera-se um panorâma mais verdadeiro das dificuldades e da realidade desta população.
De acordo com o IBGE, no Brasil, 2,9 milhões de pessoas de 18 anos ou mais se declaram lésbicas, gays ou bissexuais. A pesquisa mostra ainda que 1,1% da população, o que equivale a 1,7 milhão de pessoas, disse não saber responder à questão e 2,3%, ou 3,6 milhões, recusaram-se a responder. Uma minoria, 0,1%, ou 100 mil, disse se identificar com outras orientações.
Estudos da realidade lésbica
Embora os estudos oficiais ainda estejam em fase de maturação, entidades liberaram, nos últimos anos, levantamentos paralelos. A Liga Brasileira de Lésbicas e Mulheres Bissexuais (LBL), em parceria com a associação lesbofeminista Coturno de Vênus, divulgou em outubro de 2024 o primeiro censo brasileiro da população lésbica de forma estruturada.
O mapeamento foi realizado entre 2021 e 2022 e entrevistou 21.051 mulheres lésbicas de todos os estados. O resultado: 80% delas já sofreram violência e 70% têm medo de revelar a orientação sexual, mesmo em atendimentos de saúde. Não poderia ser diferente. 24,98% já sofreram discriminação ou violência por ser lésbica/sapatão durante um atendimento ginecológico.
“A cada dez mulheres lésbicas, oito já sofreram lesbofobia, é um número muito alto. Se a gente for pensar na questão do acesso à saúde, mais de 70% têm medo de dizer a orientação sexual quando vai procurar um serviço de saúde e isso tem a ver com todo esse processo de discriminação que a gente tem”, explicou a coordenadora da pesquisa Grazielle Tagliamento.