Alimento de verdade

Feira mostra até domingo força e trabalho da agricultura familiar do Nordeste

Cuscuz, farinha de mandioca, café, rapadura, feijão, arroz, cachaça, pimenta, frutas, hortaliças, temperos. Tudo sem agrotóxico e transgênicos. Mas feira é também ponto de reafirmação da cultura nordestina e de debate sobre as potencialidades da agricultura familiar para outras frentes

Campo Maior em Foco
Campo Maior em Foco
Em uma das barracas da feira de agricultura familiar, uma mostra da variedade dos itens

São Paulo – A força dos pequenos produtores nordestinos continua em exposição na Feira Nordestina da Agricultura Familiar e Economia Solidária até este domingo (19), no Parque de Exposições de Natal (RN). Nas barracas dos mais de 150 produtores e cooperativas, cuscuz, farinha de mandioca, café, rapadura, feijão, arroz, cachaça, pimenta, frutas, hortaliças, temperos e sementes crioulas. Tudo sem agrotóxico e muito menos transgênicos. E tem também comida pronta na praça de alimentação e uma variedade de artesanatos e muitos outros produtos da agricultura familiar camponesa.

A feira, porém, vai além do espaço criado, pela primeira vez, para mostrar a força dos pequenos produtores, que tiram alimentos frescos de seus quintais e pequenos sítios para comercializar em suas localidades. É também um ponto de reafirmação da cultura nordestina e de debate sobre expandir as potencialidades da agricultura familiar praticada na região para outras setores da economia e da sociedade. Inclusive para produção de plantas medicinais, por exemplo.

E também para organização e fortalecimento de associações de pequenos produtores nordestinos para a defesa dos direitos do campesinato. Afinal, é ali que está a produção de alimentos saudáveis e a resistência ao avanço do latifúndio produtor de commodities, que fez a fama. Mas não alimenta ninguém nem no Brasil e nem no mundo.

Pequenos produtores, grandes soluções

Nessa estratégia, camponeses vinculados ao Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) estão em Natal apresentando produtos e experiências trazidos de quatro estados. É o caso de Gardênia Oliveira. Camponesa e engenheira agrônoma, a jovem formou-se para trabalhar com feijão agroecológico no alto sertão de Sergipe.

“É um espaço de troca de experiência. Para além da divulgação dos produtos, essa feira é importante porque a agricultura familiar produz uma diversidade de produtos, em uma quantidade grande. E são alimentos de verdade. Nós trouxemos arroz integral e branco, feijão, gergelim, flocão de milho, produtos de artesanato em palha, crochê”, disse, sobre a produção de sua região.

A agricultora do sertão do Araripe (PE), Adeilma dos Santos Silva, associada ao Centro de Produtores Agroecológicos do Araripe (Copagro), contou que as dificuldades vão sendo vencidas, uma a uma. E que no caso da pandemia de covid-10 não foi diferente. Diante da dificuldade de manter as feiras, a associação visitou todas as famílias para identificar os produtos disponíveis e as quantidades para comercialização.

Produção de alimentos saudáveis

A partir daí, organizou-se o recolhimento de toda a produção, que era levada para a Copagro, onde os estoques passaram a ser centralizados. As vendas passaram a ser feitas por grupos criados no WhatsApp, que mantiveram atualizações constantes sobre os itens disponíveis. “Fomos nos mantendo e, em um mês, percebemos que as vendas dos produtos orgânicos, agroecológicos triplicaram. Até hoje esse grupo funciona e metade das vendas é feita por ele.  A pandemia nos desafiou, mas teve esse lado de a gente buscar saber como trazer esses produtos”, conta Adeilma Silva.

Com o arrefecimento da fase crítica da pandemia, os pequenos produtores nordestinos reativaram as vendas presenciais de segunda a sexta-feira. E de quinta à noite e sábado ao longo do dia muitos produtos são encontrados na feira agroecológica de Ouricuri (PE), referência do setor na região.

A Feira da Agricultura Familiar é uma iniciativa da Câmara Temática da Agricultura Familiar do Consórcio Nordeste, do governo Fátima Bezerra (PT). O objetivo principal é fortalecer iniciativas de integração de políticas públicas em torno do Programa de Alimentos Saudáveis do Nordeste, principal bandeira do Consórcio Nordeste.

(Com informações de Lívia Alcântara, da Articulação do Semi Árido – Asa Brasil e Movimento dos Pequenos Agricultores)