Esperança

Documentário sobre Brumadinho e a Vale tem exibição gratuita e debate em São Paulo: resistência pela arte

Filme será exibido hoje, às 21h, no CineSesc com a presença dos diretores e de um advogado

PPP/Divulgação
PPP/Divulgação
Artistas falam sobre mineração e os acidentes decorrentes dessa atividade econômica

São Paulo – O rompimento de uma barragem às 12h28 de 25 de janeiro de 2019 levou pelo menos 272 pessoas à morte e ficou na memória coletiva como um dos momentos mais trágicos do país. Para lembrar e refletir, o documentário Vale? terá exibição gratuita nesta terça-feira (5), às 21h, no CineSesc (Rua Augusta, 2.075), em São Paulo. Ingressos serão distribuídos uma hora antes, sujeito à lotação. Depois da sessão – o filme dura meia hora – haverá debate com os diretores e um advogado que atua no processo de indenização às vítimas de Brumadinho, em Minas Gerais.

Vale? é iniciativa do People’s Palace Projects (PPP), da Universidade Queen Mary, em Londres. Com mais de 100 projetos em 14 países, o PPP é um centro de arte e pesquisa voltado à justiça social e climática. Um dos diretores do documentário, Paul Heritage, é diretor artístico da organização. Ele assina a obra com o cineasta Marcelo Barbosa. Ambos participam da conversa ao final da sessão, com o advogado Felipe Hotta, do escritório responsável por ações – na Inglaterra e na Alemanha – dos casos Brumadinho e Mariana. O rapper e poeta Thiago SKP, de Itabira (terra de Carlos Drummond de Andrade), fará uma performance.

Paul Heritage lembra que o filme não é um relato sobre o que aconteceu em Brumadinho. “É sobre cinco artistas. Você olha para esses cinco artistas, em cinco lugares. Eles nunca se viram, mas têm uma coisa em comum: acreditam na arte, na cultura.” Nesse sentido, observa, o filme também traz mensagem de esperança pelo poder transformador da arte. “O filme toca além da situação de Brumadinho. Ajuda a pensar como a gente pode ser mais resiliente e como pode se recuperar. No Brasil, esses recursos culturais são fortíssimos. O mais importante é como a arte funciona.”

(Foto: PPP/Divulgação)

Mineração e arte

O documentário reúne cinco artistas de Minas Gerais. Jô Alves (palhaça Jojo, Passagem de Mariana), o ator e diretor de teatro Lucas Fabrício (Nova Lima), Rei Batuque (Quilombo de Marinhos, Brumadinho), o músico Vítor Elias (Banda São Sebastião, Brumadinho) e Thiago SKP (Centro Cultural Carlos Drummond de Andrade, Itabira). Eles falam sobre mineração e os acidentes decorrentes dessa atividade econômica.

Como observou o professor, a atividade artística, embora abalada pelos crimes ambientais, são ferramentas de resistência e dos laços sociais das comunidades atingidas. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a centenária Banda São Sebastião de Brumadinho. “Naquele momento, a gente sentiu que a comunidade precisava de acalento. E a nossa arte foi
uma forma de manifestar nossos afetos”, diz Vítor Elias. “Essa música (tema do documentário) e o filme nos instigam a ter coragem de questionar para que haja alguma mudança”, acrescenta SKP.

Todos perto da catástrofe

Exibido em vários lugares no Brasil e no exterior, Vale? provocou muitas lágrimas, lembra o professor Paul Heritage. E vai muito além das montanhas mineiras. “É um assunto muito forte. Acho que todos nós estamos vivendo em um mundo perto da catástrofe.” Mas produz também alento, ao estimular o debate.

Assim, o filme integra um projeto internacional de pesquisa (Raízes de Resiliência) sobre o patrimônio cultural material e imaterial do chamado Quadrilátero Ferrífero, no centro-sul mineiro. Foi feito em parceria com cinco organizações artísticas locais, todas atingidas pela mineração, além de exibir um olhar sobre os efeitos ao meio ambiente da região.

Assista ao trailer: