Pedalaço por Jujuba

Bicicletadas em mais de 150 cidades ‘vão mostrar dor e revolta, mas também força e vida’ de Julieta Hernández

“Sua vida era muito importante para muita gente, mesmo para quem não a conhecia. Prova disso é o tamanho da mobilização em sua homenagem”, destaca uma das precursoras da manifestação mundial, nesta sexta, “Bicicletada por Julieta Hernández”

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Na cidade de São Paulo, a bicicletada por Julieta ocorre às 18h30, no Masp, na Avenida Paulista

São Paulo – A mobilização “Bicicletada por Julieta”, em homenagem à artista circense e cicloativista Julieta Hernández, já ultrapassa 150 cidades pelo Brasil e o mundo, que confirmaram atos para esta sexta-feira (12). O movimento, que reúne grupos de ciclistas e artistas de todas as áreas, vem sendo organizado pelo perfis ‘Bicicletada Julieta e Circo di SóLadies|NemSóLadies’. Desde o início da semana, as páginas contabilizaram outras dezenas de atos. Todos com o grito por “Julieta Presente” e em repúdio à violência contra a mulher, que vitimou a artista.

“Migrante nômade, bonequeira, palhaça e viajante de bicicleta”, como ela mesma se definia, Julieta viajava de bicicleta pelo Brasil desde 2016. E era também conhecida como “Miss Jujuba”, seu personagem circense que levava alegria para a criançada nos rincões do país. A trajetória da artista, no entanto, foi brutalmente interrompida no final de dezembro, quando ela foi estuprada e assassinada, em Presidente Figueiredo (AM), enquanto viajava de volta à Venezuela para passar as festas com a família.

Desaparecida desde 23 de dezembro, o corpo de Julieta só foi encontrado na última sexta (5) em uma zona de mata do município. Um casal, Thiago Agles da Silva e Deliomara dos Anjos Santos, foi preso suspeito de cometer o crime. Segundo a polícia, os dois entraram em contradição sobre o que teria acontecido, mas confessaram o assassinato ainda no dia 5. As investigações iniciais identificaram que Julieta foi vítima de roubo, agressões e abuso sexual por parte do homem, antes de ser assassinada. E há a suspeita de que ela tenha sido enterrada viva, depois de ter o corpo queimado pela mulher.

Imagem de alegria

A imagem que ficou de Julieta, contudo, “representa o exato oposto” do crime bárbaro que a vitimou, conforme destaca a jornalista Aline Cavalcante, uma das precursoras da mobilização “Bicicletada por Julieta”. “Ela era afeto, alegria, paixão pela vida, generosidade, carinho com crianças e animais, atenção aos mais vulneráveis, coletividade, rede, força, coragem, potência e amor”, ressaltou em sua coluna no Ecoa, do UOL.

Em carta divulgada pelos sites Pluriverso e Amazônia Real, a irmã de Julieta, Sophia La Roja Hernández, ao contar como foram os últimos momentos de Julieta antes de perder o contato por telefone com amigos e parentes, compartilhou que a artista pegou o último dinheiro que tinha para comprar leite para as crianças do casal acusado por seu assassinato.

O caso mostra como o feminicídio “custa a vida de muitas mulheres todos os dias de diversas formas”, observa Aline. Com os atos em 158 cidades nesta sexta, as bicicletadas e palhaçadas vão mostrar para o Brasil o tamanho da dor e revolta. Mas também a solidariedade e força de Julieta. “Miss Jujuba é mais uma semente que irá germinar alegria, força e vida em nossos corações”, garantiu a organizadora.

Semente

“Sua vida era muito importante para muita gente, mesmo para quem não a conhecia. Prova disso é o tamanho da mobilização em sua homenagem. (…) A violência e a crueldade que atingem corpos femininos e LGBT+ é algo escandaloso e que jamais deve ser normalizado pela sociedade, em qualquer que seja o contexto ou condições. NENHUMA A MENOS! Todas as pessoas, sobretudo corpos vulnerabilizados e dissidentes, têm o direito soberano de serem livres e viverem em condições de dignidade, humanidade e, principalmente, de paz”, acrescentou Aline.

Em São Paulo, a bicicletada por Julieta ocorre às 18h30, no Masp, na Avenida Paulista. A lista completa com todos os atos confirmados está disponível aqui.

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Redação: Clara Assunção