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Não há relação entre aumento da letalidade policial e queda de homicídios no Rio

Rio de Janeiro registrou o maior número de mortos por ações policiais de sua história: 1.546, média de cinco pessoas assassinadas pela polícia por dia

arquivo/ebc
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Cientista político defende que é possível reduzir letalidade policial sem afetar queda nos homicídios

São Paulo – “Não se pode fazer nenhuma relação de causa e efeito entre a letalidade policial e a incidência de homicídios. São fenômenos que têm causas bastante diferentes.” A avaliação é do cientista social e coordenador de projetos do Instituto Sou da Paz, Leonardo de Carvalho, que vê com preocupação o incentivo à letalidade feito por governadores e o presidente da República, Jair Bolsonaro. O Rio de Janeiro registrou o maior número de mortos por ações policiais de sua história: 1.546, média de cinco pessoas por dia. Ao mesmo tempo, o estado verifica queda de 22% no número de homicídios.

Segundo Carvalho, existem áreas no Rio onde a letalidade policial é zero. E outras áreas onde ela é alta. A mesma situação se aplica aos homicídios. E as áreas onde cada tipo de caso ocorre não são, necessariamente, as mesmas. Logo, seria possível reduzir a letalidade policial, sem que isso prejudicasse a queda na taxa de homicídios. “Esse número recorde que a gente observa no Rio, a gente entende que ele pode ser freado e retrabalhado a partir desse procedimento de apuração e revendo o processo de formação dos policiais, a partir de uma doutrina que apresente alternativas ao uso letal da força”, afirmou, em entrevista à Rádio Brasil Atual.

O coordenador do Sou da Paz defendeu que todas as mortes, com ou sem intervenção policial, devem ser investigadas com rigor e critério. “É preciso encontrar quem mata os policiais. E também verificar os casos de letalidade policial, se o uso da força foi legítimo ou foi excessivo. E tomar as medidas necessárias tanto num caso como no outro”, avaliou. “Esse procedimento de apuração é uma das principais ferramentas para conseguir frear essa letalidade policial. Porque a partir do momento que um caso ocorre e é instaurado procedimento de investigação para avaliar se aquele caso é decorrente de um uso legítimo da força ou de um uso excessiva da força, isso reverbera entre os policiais”, disse.

Para o cientista social, não há dúvida: as falas de governantes incentivam ações mais violentas das polícias. “É muito temerário quando os nossos gestores máximos passam esse tipo de mensagem. Quando na verdade a mensagem devia ser sobre o uso técnico dos procedimentos, que são aprendidos no processo de formação dos policiais. O policial é, antes de tudo, um representante do Estado, que pode se utilizar de ferramentas para o uso da força. Até ele chegar nesse último recurso, que é o uso da força letal, ele deve usar uma série de recursos para evitar que a arma seja disparada”, defendeu.

Confira a entrevista completa: