‘As mulheres não enxergam a sistemática que as oprime’, avalia especialista

São Paulo – Comportamentos e condutas machistas são tão arraigados na sociedade que muitas vezes as próprias mulheres não percebem que são oprimidas em casa, no trabalho e na vida […]

São Paulo – Comportamentos e condutas machistas são tão arraigados na sociedade que muitas vezes as próprias mulheres não percebem que são oprimidas em casa, no trabalho e na vida social. Essa foi a avaliação da especialista em feminismo, Paula Loureiro, durante evento promovido hoje (8) pela CUT, em comemoração ao Dia Internacional da Luta pelos Direitos da Mulher.

“Não se enxerga a opressão. Nós acabamos seguindo regras que nós não sabemos que sabemos, que não estão escritas em lugar nenhum”, avaliou durante o seminário “História de Luta por Igualdade na Vida, no Mundo do Trabalho, no Movimento Sindical e a Paridade na CUT”. “Se você perguntar, uns vão dizer que depois da Constituição de 1988 a situação da mulher foi equiparada à dos homens. Outros vão dizer, ainda, que estamos em condição melhor, pois trabalhamos cinco anos menos para nos aposentar e temos licença maternidade, mas isso não é verdadeiro.”

Para Paula, até mesmo as alterações legislativas, que originalmente visavam a atender às reivindicações do movimento feminista, acabam por ajudar a manter uma sociedade patriarcal. “A licença maternidade foi uma conquista, mas ela diz: ‘mulher, você é responsável pela criança’. Não se trata, por exemplo, de uma licença parental, na qual o pai e a mãe chegam a um consenso sobre quem é o melhor para se afastar do trabalho e cuidar do bebê. Assim só minimizamos a opressão, mas não a resolvemos.” 

A situação cria uma sobrecarga para as mulheres quando elas retornam ao trabalho após seis meses de desatualização. “Muitas acabam nem voltando”, lembrou. Além disso, Paula avalia que as mulheres comumente são vítimas de preconceito no trabalho. “O chefe tem uma promoção para dar e sabe que aquela mulher é capacitada, mas ele acaba pesando, por exemplo, o fato de ela ter filhos ou ter a intenção de engravidar. Então, a promoção comumente acaba indo para o homem.”

Ela ressaltou que faltam políticas públicas de educação e saúde que deem às mulheres condições de se dedicarem integralmente ao trabalho e lembrou o déficit elevado de vagas em creches na cidade de São Paulo. 

Além da opressão no mundo do trabalho, Paula avaliou que as mulheres também são exploradas no lar, devido a uma cultura que as coloca como principais responsáveis pelas atividades de cuidado da casa. “A figura da mulher tradicional acaba sendo fundamental para a nossa sociedade, pois garante a instituição família, que só se vigorou com a ideia de transmissão hereditária da propriedade. Por isso, somos educadas dentro de parâmetros morais diferentes que o dos homens.”

“Nós entendemos que feminismo não é luta de mulheres contra homens, mas uma luta dos homens e das mulheres contra a sociedade machista e patriarcal. O patriarcado também oprime os homens”, concluiu.

Igualdade de gênero na CUT

No seminário também foi debatido o esforço da CUT em equiparar o número de homens e mulheres nos cargos de direção da entidade. “Não se trata apenas de um número, 50%, mas de uma política que leve a esse percentual e que inclua, por exemplo, formação de mulheres, para que elas sejam comprometidas com a nossa agenda”, afirmou a secretária Nacional da Mulher Trabalhadora, Roseane Silva.

A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Juvandia Moreira, lembrou que as centrais trabalhistas têm papel fundamental para alcançar a igualdade de gênero. “Nós representamos essa luta no mundo do trabalho e conseguimos mobilizar muita gente.”