Por justiça

Familiares de vítimas da chacina de Osasco vão criar associação contra violência policial

“Não é porque eles morreram que acabou. Foi sangue da nossa gente que escorreu naquele dia. Temos que nos engajar para que isso não ocorra mais uma vez”, diz mãe de vítima

Gabriel Soares/Brazil Photo Press/Folhapress

Manifestantes permanecem por mais de uma hora em silêncio para pedir justiça pela chacina de Osasco

São Paulo – Familiares de vítimas e sobreviventes da Chacina de Osasco vão criar uma associação para exigir a investigação dos assassinatos por militares, pelo fim da violência policial e para conscientizar a população sobre o que são os crimes de Estado. No episódio, que se tornou uma das maiores chacinas de São Paulo, 19 pessoas foram mortas em uma série de ataques orquestrados pela Polícia Militar em Osasco, Barueri e Itapevi, na Região Metropolitana de São Paulo, em 13 de agosto.

Até agora, dez famílias já foram localizadas e contatadas pelo advogado e militante de direitos humanos Wil Schmaltz, articulador da associação. Todas aceitaram se engajar no movimento. “Estamos buscando as outras nove, por meio de contato com conhecidos. De uma você vai descobrindo a outra. Na primeira reunião, por exemplo, só tínhamos quatro”, afirma.

Mesmo sem todas as pessoas reunidas, o processo de regularização da associação já foi iniciado: o estatuto, por exemplo, já está pronto, em processo de registro. O nome ainda não está definido, mas provavelmente será 13 de Agosto. “A partir do momento em que existe uma associação, as famílias acabam tendo mais proteção. Não só para as vítimas da chacina, mas para todas as pessoas que se identifiquem com a causa. Também não é um movimento contra a polícia, mas contra os abusos do Estado”, diz Wil.

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“Nosso objetivo é ficar remexendo na história, para que não se esqueçam do que aconteceu. Se não fizermos isso, daqui a pouco acontecerá outra”, afirma a mãe de uma das vítimas, Zilda Maria de Paula. Em 17 de novembro ela participará de uma reunião em Brasília com as Mães de Maio, movimento que reúne familiares de vítimas dos chamados Crimes de Maio, quando 493 pessoas foram assassinadas por, ao que tudo indica, grupos de extermínio da PM, nas periferias de São Paulo.

“Não é porque eles morreram que acabou. Foi sangue da nossa gente que escorreu naquele dia. Eles morreram de graça. Temos que nos engajar para que isso não ocorra mais uma vez. Estou aqui para não omitir a morte do meu filho”, afirma Zilda.

No último dia 8, cinco policiais militares e um coordenador da Guarda Civil de Barueri foram presos durante a força-tarefa que investiga o caso por envolvimento no episódio. Na casa deles, foram encontradas armas e munições sem registro. Outro policial militar já havia sido preso no final de agosto por envolvimento no crime. A principal hipótese é que a série de assassinatos – que vitimaram pessoas sem qualquer ligação com o crime ou com a polícia – tenha ocorrido em um acerto de contas pela morte de um policial militar, dias antes, em Osasco.

“O que chama a atenção nesse caso é a perversidade dos assassinatos. É muito chocante: as vítimas levaram muitos tiros, de uma forma muito cruel”, afirma o advogado das famílias, João Tancredo, que atua em casos como os assassinatos do pedreiro Amarildo Dias de Souza e da dona de casa Claudia Silva Ferreira, ambos praticados pela polícia. “Muitos familiares das vítimas adquiriram uma conscientização política impressionante depois do ocorrido.”