Douglas Rodrigues

Após dois anos, família de jovem morto por PM na zona norte de SP ainda espera justiça

ONGs e movimentos sociais vão fazer um ato no sábado (31) para retomar a campanha “Por que o senhor atirou em mim?”, contra a violência policial

Arquivo/RBA

Familiares e amigos de Douglas vão novamente às ruas pedir Justiça, como fizeram nos anos anteriores

São Paulo – “Para eles é só mais um. Mas, para nós, é todo dia esperando uma conclusão, esperando Justiça”, desabafa Rossana Martins de Souza Rodrigues, de 47 anos, mãe do estudante Douglas Rodrigues Martins, de 17 anos, assassinado em 27 de outubro de 2013 pelo policial militar Luciano Pinheiro Bispo, no Jardim Brasil, zona norte da capital paulista. Dois anos se passaram e ainda não há previsão para o julgamento de Bispo – expulso da corporação – nem da ação de reparação movida pela família contra o estado de São Paulo.

Douglas foi morto durante abordagem de policiais, que teriam sido acionados por uma queixa de perturbação do sossego. Funcionário em uma lanchonete, estava no último ano do ensino médio. O disparo fatal foi efetuado ainda de dentro da viatura pelo PM Bispo. Enquanto era socorrido, o estudante questionou o agente sobre o motivo do tiro, dando origem ao movimento “Por que o senhor atirou em mim?”, de enfrentamento da violência policial.

À época, o policial alegou que a arma disparou acidentalmente e foi indiciado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. Porém, os laudos periciais contradizem essa versão. Além disso, o relato do PM sobre estar somente com a mão para fora da viatura também foi contestado, pois o laudo necroscópico de Douglas indica que ele foi atingido no peito, de cima para baixo, o que não seria possível com a arma somente apoiada na porta do veículo.

“A própria promotoria militar entendeu que foi um crime doloso. Tanto que mandou o caso para a Justiça comum antes mesmo de o PM ser exonerado. Ele será julgado por um Júri Popular”, explicou a advogada da família de Douglas, Renata Porcel. No entanto, a promotoria solicitou um laudo complementar para que não reste dúvida sobre a intencionalidade de Bispo. Não há previsão de quando o caso será analisado pelo Tribunal do Júri do Fórum de Santana. O ex-PM aguarda o julgamento em liberdade.

Já em relação à reparação, a família espera o julgamento em segunda instância, após o governo paulista recorrer da decisão que determinou indenização pelo assassinato do estudante, em outubro do ano passado. A família nunca foi procurada pelo governo paulista, pela PM ou por qualquer outro órgão do Estado para prestar algum tipo de apoio depois do assassinato do filho.

Para a mãe de Douglas, não se trata só de Justiça no caso do filho, mas para que casos como esse não voltem a acontecer. “Vemos isso acontecer todos os dias, vejo essa violência se repetir”, disse Rossana.

No sábado (31), ONGs e movimentos sociais vão realizar uma manifestação em memória de Douglas na Rua Bacurizinho, onde ele foi assassinado, e retomar a campanha “Por que o senhor atirou em mim?”. Para as organizações, trata-se de um cotidiano de violência de Estado contra os mais pobres. “É preciso dar visibilidade ao problema que devemos socialmente enfrentar: O genocídio da população negra e periférica”, afirmou Yara Toscano, uma das organizadoras do ato.

Segundo dados da Secretaria Estadual da Segurança Pública, divulgados na quinta-feira 22, 469 pessoas foram mortas pela PM entre janeiro e setembro deste ano. Quase duas pessoas por dia. Em 2014, 801 pessoas foram mortas por policiais paulistas em serviço.