Anistia de Geraldo Azevedo e Francisco Julião é julgada nesta sexta

Caravana do Ministério da Justiça aprecia 21 processos em Pernambuco, entre os quais o de um ex-condenado à morte que hoje é juiz do Trabalho

São Paulo – Geraldo Azevedo, cantor, e Francisco Julião, líder das Ligas Camponesas nos anos 1960, estão incluídos entre os 21 pedidos de anistia que a Caravana da Anistia, do Ministério da Justiça, realiza na tarde desta sexta-feira (30) em Recife. A sessão será realizada na Assembleia Legislativa. Os processos do educador Paulo Freire, do ex-governador Miguel Arraes e de dom Hélder Câmara foram julgados em outras caravanas.

A caravana é realizada em parceria com prefeitura, governo estadual, seção pernambucana da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PE), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Movimento Tortura Nunca Mais e outras organizações.

Geraldo Azevedo integrou, em 1968, o Quarteto Livre, que acompanhava Geraldo Vandré no show “Pra não dizer que não falei das flores”. Os músicos estavam em Anápolis (GO) quando foi decretado o Ato Institucional número 5 (AI-5), em 13 de dezembro. No dia 14, fariam show justamente em Brasília. Com o início da fase mais dura do regime, Vandré e o conjunto fugiram e voltaram para São Paulo. O compositor deixaria o Brasil em fevereiro de 1969, de forma clandestina. Azevedo conta que foi preso duas vezes, em outubro de 1969, setembro de 1975, e torturado nas duas ocasiões.

Os dois Geraldos compuseram a Canção de Despedida (posteriormente, Vandré contestaria a parceria). “A música é minha, a letra é dele”, diz Geraldo Azevedo. A canção não passou pela censura. “Passei por muita violência. Acho que é o estado de espírito que segura a gente.”

Já vou embora
Mas sei que vou voltar
Amor, não chora
Se eu volto, é pra ficar

Advogado e jornalista, Francisco Julião foi um dos criadores das Ligas Camponesas, organização que defendia a reforma agrária. Eleito deputado federal, teve o mandato cassado em 1964. Foi preso e conseguiu habeas corpus 18 meses depois. Exilou-se no México e voltou ao Brasil apenas em 1979, com a Lei da Anistia. Morreu em 1999.

Outro processo é de Theodomiro Romeiro dos Santos, preso em outubro de 1970, e condenado à morte pela Justiça Militar. A pena foi convertida para prisão perpétua em 1971 e, posteriormente, para 18 anos. Em 1979, ele conseguiu fugir, obteve salvo-conduto na Nunciatura Apostólica (corpo diplomático do Vaticano) e foi para o exterior. Voltou em 1985. Atualmente, é juiz do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Pernambuco.

Segundo o Ministério da Justiça, até dezembro foram realizadas 836 sessões de julgamento, nas quais foram apreciados 59.163 pedidos de anistia – 65% foram deferidos, “o que significa que o Estado fez um pedido oficial de desculpas pelas arbitrariedades cometidas durante o período da ditadura e que reconheceu formalmente as violações praticadas. Entre as medidas, o governo considera o tempo para aposentadoria, direito de registrar o nome do pai desaparecido político, reconhecimento de títulos acadêmicos e reparação econômica.