Diário, ontem o Tarcísio me ligou e eu atendi assim: “Fala, meu menino do Rio!”

– Não me chama assim que pega mal, presidente.

– Mas é rio Tietê, kkk!

– Claro, claro. Bom, capitão, estou ligando porque preciso de uma ajudinha aqui em relação a uma coisa de São Paulo.

– Eu já te expliquei, pô: a cidade que você mora não se chama São José dos Campos do Jordão.

– Não, não é isso…

– Ah, é aquela confusão com as Mogis, né? Tem a das Cruzes, a Mirim e a Guaçu. Mas eu também confundo as três. Chama tudo de Mogi e pronto.

– Grande solução, mestre, mas…

– Já sei! Quer saber o que fazer com a USP e a Unicamp, né? Fecha aquelas duas joças lá, pô. São viveiros de esquerdista.

– Anotado. Mas tem outra coisa…

– Mais uma? Vou te dar a ficha completa então, talkei? No tocante às Fábricas de Cultura, não tem nem dúvida: transforma em fábrica de verdade e bota aquela molecada pra trabalhar. Instituto Butantã? Põe a Nise Yamaguchi pra tomar conta. Aí só vai fazer cloroquina. Que mais? Ah, tem que acabar de vez com a Unesp, a Fapesp e todos os esps. “Esp”, pra mim, é barulho de cuspida. E privatiza a Sabesp e a Cetesb. Quanto menos trabalho, melhor.

– Mas o meu assunto é…

– Mata Atlântica? Serra elétrica nela! Pergunta pro Salles que ele te explica.  

– Claro, vou consultar o doutor Ricardo, mas a questão é que…

– Já sei! Sala São Paulo! Essa é fácil: vende prum banco. Vai dar uma agência da hora.

– Ótima ideia, só que…

– Pinacoteca? Bota só quadro do Romero Brito.

– Pode deixar. Fora isso, eu queria perguntar…

– Ah, claro. Nem precisa dizer mais nada. Você quer saber o que fazer com a tal da Orquestra Sinfônica. Essa é moleza. Manda tocar só música sertaneja. Ou gospel. Você escolhe aí.

– Na verdade, capitão presidente, a minha dúvida é uma coisa mais simples. É que eu tô numa passeata, vou parar num boteco daqui a pouco pra fazer aquelas fotos, e queria saber se posso colocar catchup na pizza.

– Não, Tarcísio, meu menino do Rio! Senão descobrem que você é carioca! Acabar com a USP, tudo bem, mas catchup na pizza, nunca!

– E no pastel, pode?

– Só vinagrete.

– Sério? Então é melhor deixar pra lá. Vou comer só um biscoito mesmo.

– Bolacha, Tarcísio, bolacha!

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