Desenvolvimento em foco

Pandemia traz à tona a desigualdade na educação, problema que dificulta o acesso ao mercado de trabalho

Com crise da Covid-19, ficou evidente as diferenças entre os ensinos público e privado. Nas escolas públicas, a falta de infraestrutura digital para viabilizar os conteúdos online foi apenas umas das pontas de um sistema de ensino cercado de vulnerabilidades

Lúcio Bernardo Jr. / Agência Brasília
Lúcio Bernardo Jr. / Agência Brasília
Plataforma para ensino online é um recurso que falta para a maioria das escolas no setor público

Em nota técnica na 24ª Carta de Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) tratamos brevemente dos impactos da pandemia na educação e no mercado de trabalho. A íntegra da nota técnica pode ser lida em https://www.uscs.edu.br/noticias/cartasconjuscs. Aqui, uma síntese do material. Evidenciar a luta da desigualdade social na educação pública com a pandemia do Covid-19, elevou-se no Brasil à diferença que estudantes de escola privada e pública possuem. O assunto exposto nesse artigo, de forma ampla, tende a abranger as inúmeras dificuldades enfrentadas pelos jovens no modelo online e o quão afetados ficaram em relação à inserção no mercado de trabalho.

Tem-se como propósito, por elementos coletados com jovens recém-formados no 3º ano do ensino médio público e privado durante a pandemia, ter conhecimento de qual o ponto de vista em relação ao ensino ofertado, o quão as condições aplicadas impactaram, o quão afetados e qualificados se sentem em relação ao mercado de trabalho.

A educação é um princípio primordial de todos os brasileiros, é de incumbência do Estado proporcionar um estudo de qualidade aos cidadãos e que auxilie os jovens, principalmente aqueles que estão a se formar, com o mercado de trabalho. Infelizmente, a promoção automática traz consigo uma excelente elaboração de forma teórica, mas quando se tenta colocar em prática, os resultados esperados acabam sendo divergentes. Isto se dá devido à carência que as escolas possuem em relação ao ensino desenvolvido e aplicado.

Promoção sem conhecimento

Os jovens entram em um sistema educacional falho e tendem a ser prejudicados em alta escala por serem promovidos de ano sem o conhecimento básico de interpretação de texto e o não domínio de quatro operações em base da aritmética. Inclusive, pesquisa realizada pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos da UNESCO, no ano de 2001, “colocou o Brasil em último lugar no domínio dos rudimentos da linguagem”. É comprobatório o ensino precário que o país oferta aos estudantes, principalmente os que dependem do ensino público.

O índice de jovens que concluíram os estudos e possuem dificuldades de iniciar em seu primeiro emprego é muito elevado. O nível de qualidade que os empregadores estão exigindo faz com que os egressos do ensino fundamental não tenham chances. Os jovens estão se formando sem os conhecimentos básicos mesmo sendo promovidos de ano, o que lhes impossibilita de competir neste novo mercado tão exigente.

A reforma do ensino médio público teve início em meados de 1990, de acordo com Dagmar M. L. Zibas. Em meio às regulamentações políticas que ocorriam, definiram o Ensino Médio de tal modo que houve um alto impacto social em relação aos estudantes, e o que visava crescimento, tornou-se algo estagnado e sem resoluções pertinentes.

Entre as problemáticas maiores encontradas no desenvolvimento, competem a dificuldade do acesso que os jovens encontram e o não abandono escolar; qualidade inferior e insuficiente do ensino escolar, transformando jovens cada vez mais despreparados para a carreira empregatícia.

Infraestrutura e investimento

Além da precariedade do ensino evidenciado nas escolas públicas, é explícito a falta de infraestrutura e investimento do Estado visando melhorias em demasiadas adversidades, fazendo com que os jovens que utilizam do ensino público saiam prejudicados em relação à inserção ao mercado de trabalho.

O ensino médio é o reflexo do ensino fundamental, os problemas se iniciam a partir do momento em que o aluno é promovido ao ensino fundamental e permanece sendo alastrado até o último ano de sua escolaridade, porém, ao finalizar, o jovem se depara com um desafio: o mercado de trabalho.

Um mundo novo, uma fase completamente diferente da acostumada, sem possuir conhecimento básico sobre a carreira empregatícia. Níveis mais altos de escolarização são exigidos, o diploma tornou-se um papel que os jovens conquistam após os estudos, é necessário especializações e que haja adequação do currículo ao mundo.

Mas, sem os conhecimentos necessários, o que já era difícil se torna bastante complicado, prejudicando os recém-formados que nunca haviam tido contato com este mercado, e possivelmente, sem instruções eficientes. A qualidade do ensino médio público decaiu durante a pandemia, algumas escolas tiveram que ser fechadas durante o caos que estávamos vivenciando, além de que, muitas não detinham infraestrutura para aplicação de aulas online e os alunos sem acesso à internet, por uma análise realizada através da Pesquisa Juventudes e a Pandemia do Coronavírus, em 2020, “quase 30% dos jovens que estudam já pensaram em abandonar a escola durante a pandemia”.

Novo ensino médio

Através de uma pesquisa realizada pelo Instituto FSB no ano de 2021, os jovens acreditam que o formato do novo ensino médio possui preparação profissional ampliada em comparação ao tradicional, dando oportunidades aos jovens recém-formados a iniciarem sua carreira empregatícia sem necessidade do ingresso direto em universidades, por questões de concursos e até mesmo a ausência de condições financeiras para custear uma universidade privada.

A metodologia do ensino escolar faz com que os estudantes optem pelo abandono escolar, pois não possuem qualificação necessária para o mercado de trabalho, com base no que se é aplicado no ensino médio.

Os mais afetados, principalmente após o coronavírus, são os jovens recém-formados que encontram diversas dificuldades para ingressar no mercado de trabalho. A ausência de auxílio durante a escola prejudica os jovens que nunca enfrentaram esse novo mundo, sem parâmetros por onde e como iniciar em seu primeiro emprego, correlacionando em uma taxa de aumento no nível de desemprego.

O Instituto PROA é uma das diversas ONG’s que auxiliam recém-formados a conseguirem um emprego, através da elaboração e aplicação de cursos gratuitos que capacitem e preparem para o mercado de trabalho. Os cursos ofertados costumam ser exclusivos a jovens que concluíram o ensino médio em escolas públicas. Por meio dessa iniciativa, visam a capacitação inicial para que possuam ambições profissionais, interesse em aprender diversas coisas e ampliação de suas habilidades.

Falta de recursos

Há uma defasagem na aprendizagem dos jovens, contudo, os estudantes da rede pública saem mais prejudicados devido a ausência de recursos não fornecidos pelo Estado da maneira que deveria. A escola é o local que crianças e, principalmente, os jovens buscam conhecimento e respostas para demasiados assuntos, portanto, é necessário que haja membros qualificados que compartilhem e auxiliem os adolescentes visando o futuro social e empregatício.

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O ponto inicial de uma nova fase da vida de milhares de jovens é sua formação no ensino médio. Após a saída do ambiente escolar, os jovens devem sair qualificados para enfrentarem o mercado de trabalho sem barreiras que deveriam ser descontinuadas com um ensino de qualidade e não pífio, como ofertado pelas instituições.

O ensino decorria de demasiados pontos negativos antes da pandemia, contudo, a paralisação de investimentos e acessibilidade digital dos alunos do ensino médio durante a pandemia transformou o ensino em uma barreira devido às adversidades encontradas e enfrentadas durante esse tempo.

A pandemia evidenciou a desigualdade social entre os estudantes e a necessidade que as escolas tiveram de se adaptar a uma nova realidade, sem equipamentos adequados e condições favoráveis dos professores na aplicação de aulas.


Este artigo foi escrito por Rogério Lopes, Professor da USCS, e pelos alunos Enzo Furlaneto Prudencio, Erick Carvalheiro de Barros, Gabriella Barbosa e Vinicius Nascimento de Almeida.

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