Prontidão?

CEO do Bradesco, que lucra bilhões, elogia Exército às vésperas das eleições

Porta-voz de uma instituição de quase 87 mil trabalhadores tem de ter responsabilidade com toda a sociedade. Não somente com os acionistas aos quais distribui os lucros da empresa

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Presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo cobra posicionamento do Bradesco em defesa da democracia, após seu CEO postar vídeo afirmando estar "de prontidão", exaltando as Forças Armadas

O diretor-presidente do banco Bradesco, Octavio de Lazari Junior, em vídeo que circula nas redes sociais desde sábado (4), elogia o Exército brasileiro e o período em que passou por uma formação militar.

O vídeo mobilizou as redes sociais. Na gravação, o CEO de um dos principais bancos do país, relata que, 40 anos atrás, se apresentava como “Soldado 939 Lazari“. Ele conta que durante um ano, em 1982, a apresentação fazia parte da sua rotina. O executivo encerra o vídeo dizendo que segue de prontidão. “Passam os anos e algumas coisas não mudam e o soldado 939 Lazari continua de prontidão”.

Em 2018, após a eleição do presidente Jair Bolsonaro, Lazari disse ao jornal O Globo que se sentia “revigorado”. “A partir deste cenário, nos sentimos revigorados para dar início a um novo ciclo de reformas estruturais no sentido de modernização do Brasil”, afirmou ele, na época, em comunicado ao jornal. No Fórum Econômico Mundial de Davos, em maio passado, Lazari minimizou as ameaças antidemocráticas de Bolsonaro e disse que “o sentimento deles (referindo-se à comunidade econômica internacional) é de que o Brasil tem uma democracia consolidada”.

As recentes declarações de Lazari foram postadas em um vídeo em que aparece o logo do Bradesco, ou seja, de forma institucional. Precisa, portanto. ser esclarecida pelo banco.

Estamos em um período de frequentes ataques do presidente da República contra a democracia e ao processo eleitoral e de insinuações golpistas em relação ao sistema eleitoral brasileiro.

Os bancos são uma concessão pública e é importante que as instituições financeiras, responsáveis por cuidar do dinheiro da população, sejam um instrumento para o desenvolvimento, com respeito ao Estado Democrático de Direito.

Desde sua eleição, em 2018, Bolsonaro tem atacado sistematicamente o Judiciário, a imprensa, universidades, organizações sem fins lucrativos e movimentos sociais, o que representa ameaça significativa à democracia no Brasil. Não bastasse, esse governo também incluiu milhares de militares em cargos públicos.

Assim, o porta-voz de uma instituição de quase 87 mil trabalhadores – caso de Lazari e do Bradesco – tem de ter responsabilidade com toda a sociedade. Não somente com os acionistas aos quais distribui os lucros bilionários da empresa, mas também com os seus trabalhadores e clientes.

O Sindicato dos Bancários tem a defesa da democracia como bandeira de luta permanente e espera que a direção do Bradesco esteja alinhada com essa posição.


Ivone Silva é a atual presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. Eleita em 2017, é a segunda mulher a presidir a entidade. Formada em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP), Ivone tem MBA em Finanças, Controladoria e Auditoria pela Fundação Getúlio Vargas. Funcionária do Itaú-Unibanco desde 1989, começou como diretora do sindicato em 1997


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