Um nó chamado Ormuz

Vista espacial do Estreito de Ormuz: xadrez geopolítico e tabuleiro de nova Guerra Fria (Foto: Nasa) A expulsão da diplomata Lívia Acosta Noguera, consulesa da Venezuela em Miami, decretada pelo governo norte-americano, […]

Vista espacial do Estreito de Ormuz: xadrez geopolítico e tabuleiro de nova Guerra Fria (Foto: Nasa)

A expulsão da diplomata Lívia Acosta Noguera, consulesa da Venezuela em Miami, decretada pelo governo norte-americano, mais parece uma retaliação contra a visita do presidente Ahmadinejad a Caracas do que um ato contra Hugo Chávez. Ainda que possa ser uma advertência para este último.

Tudo por causa de um nó chamado Ormuz. Esse é o nome do estreito que liga o golfo Pérsico ao Oceano Índico. De um lado do golfo estão Iraque, Kuwait, Arábia Saudita, Qatar, Emirados Árabes Unidos, uma ponta de Omã, e Bahrein – onde estaciona a 5ª Frota Naval dos Estados Unidos. Do outro lado está o Irã e seu propalado e temido programa nuclear, além de sua própria frota naval, que fica fazendo exercícios com mísseis nas barbas da 5ª Frota.

Pelo estreito de Ormuz passam de um terço a 40% do petróleo consumido no mundo. Essa é a principal razão da tensão do Ocidente com o Irã – não Israel, embora este país seja um peão importante nesse jogo entre reis, rainhas, emires e presidentes de um lado, e bispos (ou aiatolás) do outro.

A impressão que se tem é que com a chegada de Ahmadinejad a Caracas (depois a Quito, Manágua e Havana) o Departamento de Estado em Washington se agitou e o raio da maldição caiu sobre a cabeça da consulesa.

A acusação contra ela é vaga, e na verdade Washington se baseou num dispositivo das convenções internacionais que asseguram a um estado o direito de considerar alguém persona non grata sem a necessidade de dar explicações. Uma fala em supostas conversações (no México) sobre ataques cibernéticos aos Estados Unidos.

Deve-se citar também, entre os motivos de Washington, a condenação à morte do cidadão norte-americano de ascendência iraniana Amir Hekmati pelos tribunais de Teerã, acusado de ser um espião da CIA. E ainda o anúncio pelo jornal Keyhan de que a central nuclear de Fordow, perto da cidade de Qom, retomara o processo de enriquecimento de urânio.

Por sua vez, o alvo escolhido – a diplomata venezuelana – serve como uma advertência não só a países da América Latina que queiram manter relações próximas com o Irã, mas também a países de outras regiões. É um elemento de pressão sobre a União Europeia, que discute a possibilidade de um embargo ao petróleo iraniano.

A possibilidade dessa medida aumentaria na medida em que a U. E. teria mais facilidades agora para ampliar as importações da Líbia, depois do assassinato de Muhammar Khaddafi. Também serve de advertência à Rússia que, se tem feito pressão para controlar a expansão nuclear do Irã (embora a tenha apoiado, como, inclusive, algumas empresas europeias o fizeram no passado por meio de insumos indiretos), mantém uma amizade nada discreta com o presidente Ahmadinejad (mais com ele, diga-se de passagem, do que com os aiatolás,todos ferrenhos anti-comunistas, embora isso seja coisa do passado) e também uma mais discreta com Bashar al Assad, o contestado presidente sírio, que o Irã também apóia.

Foi neste complexo tabuleiro de uma “guerra fria” cada vez mais quente que a peã Lívia dançou. O nó de Ormuz pegou o seu pescoço.