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Ucrânia e Escócia fazem Europa ‘prender a respiração’

Uma possível luz no fim do túnel pode levar a paz para as províncias separatistas ucranianas. E um plebiscito pode definir a fragmentação do Reino Unido

EFE/EPA/ANATOLY MALTSEV

Soldado monta guarda em ponto de observação das tropas separatistas da Ucrânia. Acordo de paz pode estar próximo

Nesta quarta-feira (17) a respiração está suspensa na Europa. Por dois motivos.

O primeiro é o que vai acontecer amanhã, quinta-feira, dia 18 de setembro de 2014, com o plebiscito sobre a independência da e na Escócia. As pesquisas dão diferenças apertadas, pró-sim e pró-não (coisa de 1 ou 2%) e um número elevado de indecisos (de 10 a 17%, conforme diferentes institutos). Coisa curiosa: as pesquisas feitas pela internet favorecem o sim, enquanto as feitas por telefone favorecem o não.

O establishment europeu e o norte-americano temem que uma vitória do sim, além de engasgar o Reino Unido, enfogueire outros separatismos pela Europa e pelo mundo. Até a China, que enfrenta movimentos separatistas pelo menos numa de suas províncias, está preocupada com a possibilidade do sim vencer.

Outro motivo para a respiração presa está na Ucrânia. E desta vez o sufoco é positivo. Na terça-feira (16), o Parlamento de Kiev aprovou duas resoluções importantíssimas. A primeira foi a da lei que autoriza uma maior aproximação com a União Europeia. Esta lei já fora aprovada anteriormente, da qual o então chefe de estado Viktor Yanukovitch recuou. Este recuo levou às revoltas da praça Maidan, que terminaram por derrubá-lo do governo.

A segunda resolução foi a de uma lei que concede grande autonomia às províncias separatistas do leste do país (conhecidas pelo nome genérico de região do Donbass), permitindo que elas mantenham uma grande aproximação com a Rússia e continuem usando o russo como idioma oficial, além do ucraniano. Ela praticamente atende as reivindicações da maior parte dos grupos separatistas (há os que lutam pela independência total) e segue a orientação definida pelas reuniões em Minsk, capital da Bielorrússia, da qual participou também uma representação do governo de Moscou, além dos do governo e dos rebeldes.

Há dificuldades no meio do caminho. Diferentes setores da Ucrânia – entre eles a ex-
candidata à presidência Yulia Timoshenko – consideram que esta lei equivale a uma “rendição” aos rebeldes e à Rússia. Além disto há que se levar em conta a oposição de batalhões de voluntários neo-fascistas que estão combatendo os rebeldes, como o Azov e o Aidar, que já se declararam frontalmente contrários à qualquer trégua com os rebeldes, quanto mais a paz.

Membros do Batalhão Azov já disseram que pretendem até derrubar o governo de Kiev para instalar uma ditadura que “limpe” o país. Um de seus membros chegou a dizer ao The Guardian que não era contra a Rússia, mas sim contra Putin, porque este nem russo era, mas “judeu” (sic!).

O próprio primeiro-ministro do país, Arseniy Yatseniuk, tem uma posição muito mais dura em relação aos separatistas e à Rússia do que o presidente Petro Poroshenko. Diferentes analistas ressaltaram que, por sua vez, Poroshenko não tinha outra saída, senão a de aceitar a negociação com os rebeldes e a Rússia, em troca da aceitação por esta de uma aproximação maior mas cautelosa com a U. E. que não envolva, por exemplo, uma união aduaneira no curto prazo nem uma adesão à OTAN no longo.

A união aduaneira prejudicaria as exportações russas para a Ucrânia, enquanto a adesão à OTAN traria, potencialmente, as bases militares desta para a fronteira da Rússia e o Mar Negro.

Para Poroshenko uma situação atrito com a Rússia revelou-se impossível de manter, tanto no plano militar quanto no econômico e político. No plano militar o Exército de Kiev, com voluntários e tudo, não é páreo para o russo. Nas últimas semanas aquele sofreu uma série de reveses diante dos rebeldes, ajudados certamente por Moscou materialmente e, segundo as acusações do Ocidente (não comprovadas, pelo menos até aqui) com a infiltração de militares e blindados dem território ucraniano. Economicamente, a Ucrânia ainda depende – assim como a Europa inteira – do gás russo, inclusive para o aquecimento diante do inverno que se avizinha.

Por ora a trégua concertada se mantém, apesar de contínuas violações localizadas, agora mais na frente da cidade de Donetsk onde, ao que parece, se concentram os grupos separatistas mais radicais. Há enfrentamentos de artilharia contínuos em torno do aeroporto da cidade, controlado pelas forças de Kiev. Ainda assim, tanto a trégua quanto a lei de autonomia federativa aprovada no Parlamento deixam vislumbrar a possibilidade do fim de um conflito que já tem no seu passivo quase três mil mortos, sobretudo civis, e forçou 340 mil pessoas a abandonarem suas casas no leste da Ucrânia.