ONU: nada de novo na frente ocidental

Nem Dilma Roussef nem o Brasil pertencem a essa fantasmagoria chamada “Ocidente” (Foto: Roberto Stuckert Filho/PR) Em 1948, na abertura da primeira sessão oficial da Assembléia Geral da Organização das […]

Nem Dilma Roussef nem o Brasil pertencem a essa fantasmagoria chamada “Ocidente” (Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)

Em 1948, na abertura da primeira sessão oficial da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, o seu primeiro Secretário Geral, o norueguês Trygve Lie, tinha um problema. Logo depois das palavras protocolares de início da sessão, quem falaria primeiro? A Guerra Fria começava, dar a palavra para um lado provocaria o outro, havia os derrotados e os vitoriosos da Segunda Guerra… Foi quando ele teve uma idéia genial. Apelou para seu amigo pessoal, o representante brasileiro, Oswaldo Aranha. Poderia ele quebrar esse galho? Fazer o primeiro discurso? Oswaldo que, além de não rejeitar palanque, era um diplomata de primeira, aceitou. O Brasil também era um vitorioso da Segunda Guerra, mas sem os compromissos com ocupações dos outros. E assim, desde então, o Brasil faz o primeiro discurso na abertura anual dos trabalhos da Assembléia Geral.

Foi a partir daí que Dilma Roussef, a primeira mulher a fazê-lo, chegou a esse feito. Chegou também por seus próprios méritos, é claro. E fê-lo com brilho.

Tanto Katarina Peixoto, em seu artigo na Carta Maior sobre o discurso da presidenta, quanto Clovis Rossi na sua coluna “Janela para o mundo”, na Folha de S. Paulo, sublinharam: o discurso de Dilma Roussef foi meridianamente claro. Defendeu a reorganização da ONU, a política de inclusão social como indispensável para elaborar soluções para a crise econômica mundial, ao invés de apenas cortejar os mercados, as agências de classificação econômica e implementar os sanguinários cortes de investimentos sociais, aposentadorias etc. Também foi clara ao defender o establecimento e o reconhecimento de um estado palestino como necessário não só ao povo palestino, mas a Israel e à paz mundial.

Porém nem Dilma Roussef nem o Brasil pertencem a essa fantasmagoria chamada “Ocidente”. Que está mergulhada num poço de impasses e contradições. Os discursos subseqüentes, de Barack Obama e de Nicolas Sarkozy, entre outros, simplesmente tergiversaram sobre os temas que trataram, entre eles o da questão palestina.

Os impasses do Ocidente ficaram claros, por exemplo, no último fim de semana, quando o Secretário do Tesouro norte-americano, Timothy F. Geithner, compareceu a uma reunião dos ministros europeus da área financeira na Polônia. Em essência, T. Geithner foi defender o que Dilma Roussef defendeu no seu discurso: mais investimentos sociais, ao invés de insistir na exclusividade obtusa da “austeridade fiscal”. Foi recebido com frieza, senão com desdém. Por quê? Não se trata apenas da adesão incondicional da maioria dos governos europeus ao consenso neoliberal de Burxelas. Trata-se de repudiar a idéia de que a sacrossanta Europa tenha qualquer problema de “exclusão social”. Podeaté ter de xenofobia, isso é inegável. Mas de “pobreza”, imagine!

Sarkozy e Obama tergivesaram sobre a questão palestina porque estão comprimidos pelas suas agendas eleitorais, mais o segundo do que o primeiro, que se apóia claramente numa coligação de direita no seu país. Já Obama se vê continuamente pressionado – não apenas pela oposição republicana, reacionária e religiosamente fundamentalista – mas pela falta de apoio decidido em seu próprio partido, o Democrata.

O resultado é esse discurso evasivo, sem contundência. Vai se dizer que Obama não citou as fronteiras de 67 como base para uma negociação? Mas ele citou seus discursos anteriores, em que falou nisso… Mas, é claro, faltou esfregar isso na cara de Benyamin Nethanyau, dirão os mais exaltados. Deveria? Poderia. Mas a que custo?

É isso que não está claro para os estrategistas da Casa Branca.

Felizmente, a nossa presidenta não está nessa situação.