Se correr, a Grécia sai; se ficar, a Grécia cai…

Ângela Merkel: tempestade à vista por causa da Grécia (Foto: Thomas Peter/Reuters – arquivo) A Grécia deve 370 bilhões de euros, e fica cada vez mais claro que ela não […]

Ângela Merkel: tempestade à vista por causa da Grécia (Foto: Thomas Peter/Reuters – arquivo)

A Grécia deve 370 bilhões de euros, e fica cada vez mais claro que ela não tem como pagar isso, nem mesmo cortando um pedaço do seu território e entregando-o aos credores.

Isso abriu um rombo virtual nos bancos alemães, maiores credores da dívida pública grega, e mais recentemente uma brecha feia na coalizão que governa a Alemanha, o big boss, a caixa forte da União Européia e da Zona do Euro.

Há uma oposição “à esquerda”, digamos, que deseja que a Grécia saia da Zona do Euro. Mas também há uma oposição “à direita”. Para aquela, restabelecer o dracma, fosse qual fosse o custo no curto prazo (e seria enorme), significaria recuperar a soberania e o controle sobre a própria moeda, ao invés de ficar na dependência da política financeira e econômica de Berlim Paris e Frankfurt (sede do Banco Central Europeu). Para a segunda posição, a Grécia sair da Zona do Euro significa livrar-se um país que nào é sério, que não fez nem faz a lição de casa. Essa lição de casa significa privatizar tudo o que há para privatizar, cortar aposentadorias, investimentos sociais, rebaixar salários, demitir funcionários públicos, desinvestir na educação, etc. No jargão hoje dominante e hegemônico na política européia, isso significa implementar “uma política de austeridade”.

Essa segunda visão rachou a coligação que dirige a Alemanha. Ângela Merkel, a chanceler, da União Democrata Cristã (CDU), vem fazendo de tudo para manter a ajuda, ainda que condicional àquela lição de casa, à Grécia, para evitar duas coisas: tanto a possibilidade dela sair da Zona do Euro, quanto a ter que declarar Um “default”, como se diz hoje, ou uma “reestruturação” da dívida, o que, traduzindo em linguagem chã, significa admitir que o país não tem como pagar a dívida e renegociá-la, seja em prazo, seja em quantia, ou ambos, com os credores.

Entretanto seu vice-chanceler, Philipp Rösler, do FDP, o Partido Liberal Democrata, sempre descrito como “businesse friendly”, parceiro da CDU, criticou abertamente a adoção de mais ajuda à Grécia. O outro partido da coligação, a CSU (União Social Cristã, da Baviera) engrossou a crítica, com mais veemência. Se não tem como pagar, a Grécia que fique sem ajuda.

A adoção dessa medida significa forçar a que a Grécia faça as duas coisas misturadamente: saia da Zona do Euro e ao mesmo tempo declare falência, quer dizer, a “reestruturação” da dívida. Não só os bancos alemães amargariam perdas enormes, mas os franceses também, e ainda o Banco Central Europeu, que recentemente comprou 40 bilhões em títulos gregos a preços acima dos do mercado. Quem vai ter de socorrer o BC Europeu? A Alemanha, onde os dentes e a frente do governo estão trincando.

Num círculo vicioso, se a Grécia ficar na Zona do Euro e conseguir a ajuda que está ameaçada, nos termos em que ela é oferecida, vai destruir sua possibilidade de recuperação por muitos anos. Ou seja, de fato, se correr, a Grécia sai da Zona do Euro e afunda na própria di’vida; se ficar, cai num buraco de onde não se sabe como nem quando sairia.

Uma solução intermediária seria a Grécia conseguir e aceitar a ajuda até o ano que vem, quando suas contas poderão ter um superávit. Aí seria o momento de tomar a decisão, se fica na Zona do Euro ou se sai; se reestrutura a dívida ou não; ou se faz as duas coisas de maneira mais ordenada e controlada do que agora.

A questão é se haverá tempo para isso, e quais serão as pressões a que ela será submetida. Porque se ela sai, Irlanda e Portugal poderão pensar na mesma coisa. Se ela reestrutura sua dívida dentro da Zona do Euro, Portugal, Irlanda, Espanha e Itália reivindicarão a mesma coisa. De qualquer modo, a situação será penosa para bancos, outros credores e para o governo de Ângela Merkel, que está por um fio. Se este não se sustentar, provavelmente haverá novas eleições, com as incertezas de sempre. Ou se formará um novo governo de salvação nacional, com a CDU e o SPD. Mas este já declarou que está disposto a fazer tudo para salvar o euro, mas não o governo de Ângela Merkel…

Enfim, fique, corra, saia ou caia a Grécia, a questão é quem vai afundar ou cair junto com ela.