Mulheres lutam por direito a dirigir carros, num país em busca de uma rota

árabia saudita

CC / #women2drive / reprodução

Vídeo de campanha de resistência à tentativa de proibir mulheres sauditas de dirigir

Nesta sexta-feira (25) há um protesto original na Arábia Saudita: as mulheres querem terminar com a proibição de dirigirem carros e outros veículos automotores.

O motivo alegado para a proibição? Um manifesto de 150 clérigos e outras personalidades de prestígio no establishment do país esclarece: dirigir prejudica o útero, os ovários, a região pélvica e até o feto, no caso de mulheres grávidas.

O manifesto não se refere às partes pubendas masculinas.

É claro que a proibição se refere a outras coisas, entre elas, a temida presença das mulheres no espaço público. Os adversários das mulheres no volante também citam a influência perniciosa dos EUA, exemplo de como a moral e os bons costumes podem ser corrompidos.

Uma das manifestações a favor da proibição alegou que as mulheres num veículo podem “ser obrigadas” a conviver com homens que “não são de suas relações”. É muita hipocrisia.

As mulheres prometem dirigir carros na contramão – da proibição, é claro. E vai haver manifestações de rua.

O governo anunciou que vai coibir “manifestações ilegais”. Mas vários analistas da mídia internacional apontaram que não houve uma condenação, por parte do governo, quanto ao mérito do protesto.

Isso significaria que há uma tendência, dentro do governo, quer dizer, da monarquia saudita, em favor da liberação. O que levanta um tema interessante: a monarquia saudita, uma das mais reacionárias da região e do planeta estaria sentindo necessidade de “se modernizar”.

O que não vem, como sempre, sem tensões. Por exemplo: na semana passada o governo saudita teve a atitude inédita de renunciar a assumir a cadeira no Conselho de Segurança da ONU para o qual fora eleito. A atitude provocou perplexidade internacional.

Só uma razão pode explicar este comportamento bizarro: a Arábia Saudita financia grupos da ou ligados à Al Qaeda na Síria. Estando no Conselho, e tomando parte nas votações, o governo de Ryad estaria se vinculando às suas decisões, que, certamente, não incluirão o financiamento de tais grupos.

Mas se a monarquia saudita aspira a algum tipo de hegemonia no Oriente Médio – e aspira – acabará tendo que permitir que suas mulheres dirijam carros. Mesmo que – e torçamos – não alcance esta almejada hegemonia.