Julgamento de terrorista norueguês atinge ponto crítico

Assassino confesso, Breivik ajeita a gravata no tribunal: cultura de extrema-direita por trás do julgamento em Oslo (©Foto: Lise Aserud/Reuters) O julgamento em Oslo do terrorista norueguês Anders Behring Breivik, […]

Assassino confesso, Breivik ajeita a gravata no tribunal: cultura de extrema-direita por trás do julgamento em Oslo (©Foto: Lise Aserud/Reuters)

O julgamento em Oslo do terrorista norueguês Anders Behring Breivik, que em julho do ano passado matou 77 pessoas, entre elas 69 num acampamento da juventude, atingiu um ponto crítico. A promotoria está explorando as idéias inspiradoras de Breivik. Ele alega que não se inspira nos nazistas do passado, mas sim nos “nacionalistas sérvios” que foram bombardeados pela OTAN na guerra da ex-Iugoslávia.

Essa exploração será fundamental para determinar um dos pontos cruciais do julgamento, que é o de considerar o acusado (e réu confesso) insano ou não. Até o momento houve dois laudos contraditórios, o primeiro dizendo que ele era insano e irresponsável por seu atos, não podendo, portanto, ir a julgamento. Já o segundo, por uma equipe diversa, afirmou sua sanidade e que ele podia sim ser responsabilizado por seus atos.

Breivik já declarou que não reconhece a autoridade do tribunal nem o processo contra ele, alegando que não cometeu crime algum, pois agiu em legítima defesa e do seu país, ameaçado pela política multicultural do governo. Também não admite que matou inocentes, dizendo, entre outras coisas, que só matou pessoas com mais de 14 anos. E diz que só se arrepende por não ter morto mais gente. Tudo isso dito num tom tranqüilo e com um ar sorridente, de quem está satisfeito por ter os holofotes sobre si.

É difícil dizer o que predomina nas suas declarações, se um exibicionismo vulgar ou se um narcisismo assassino – ou ambos. Fica evidente que ele está tentando usar o julgamento (que, em parte, está sendo televisionado) como uma tribuna para suas idéias. O mais assustador é que elas têm sim, alguma acolhida, ainda que muda e disfarçada.

A discussão também tem girado em torno de uma suposta organização que ele teria criado com mais três pessoas, em Londres, chamada de “Os Cavaleiros Templários”. A investigação e o interrogatório da promotoria visam estabelecer se isso foi algo real ou se trata de uma fantasia do acusado, o que pode também ser decisivo para o pronunciamento sobre sua (in)sanidade mental.

O curioso é que, pela lei norueguesa, se ele for delcarado insano, ficará automaticamente detido pelo resto da vida. Mas se for delcarado são e condenado, receberá uma sentença no máximo de 21 anos, depois dos quais seu caso terá de ser reavaliado periodicamente. Ele poderia, em tese, até ser solto.

Um outro aspecto que está sendo julgado em Oslo – no bastidor do tribunal, é claro – é o da insanidade das idéias defendidas pelo acusado – que, no fundo, são apenas uma radicalização de idéias de extrema-direita correntes hoje em dia em muitos países da Europa. É claro que sua atitude foi condenada inclusive por várias organizações de extrema-direita. Mas não se pode evitar o pensamento de que elas são corresponsáveis, através de sua pregação intolerante, pelo caldo de cultura em que Anders Breivik – insano ou não – vicejou.