E deu Itália na final…

Balotelli e Monti: otimismo alemão refreado, dentro e fora do campo do futebol (Fotos: CC/Flicr e ©Giampiero Sposito/Reuters) A Alemanha era a franca favorita no duelo com a Itália, em […]

Balotelli e Monti: otimismo alemão refreado, dentro e fora do campo do futebol (Fotos: CC/Flicr e ©Giampiero Sposito/Reuters)

A Alemanha era a franca favorita no duelo com a Itália, em Varsóvia, na Eurocopa 2012, para saber quem iria à final enfrentar a Espanha. Era tão favorita que comentaristas mais ousados começaram a fazer prognósticos e julgamentos metafóricos comparando futebol, economia e política.

Foi o caso, por exemplo, de Simon Kuper, comentarista esportivo britânico – nascido em Uganda de pais sul-africanos: nada mais nada menos do que na página 3 do Financial Times de 28 de junho, dia do jogo.

Páginas adiante, Paul Krugman e Richard Layard (respectivamente professores  de Princeton e da London School of Economics, sendo que o primeiro é Prêmio Nobel de Economia) execravam os planos de austeridade europeus – comandados por Angela Merkel – como um conjunto de ideias equivocadas que tinham sido sepultados sob os escombros deixados pelas décadas de 20 e 30, mas que agora, como vampiros (a metáfora é minha), retornaram de suas tumbas para atazanar a vida de governos, povos e países, impondo sofrimentos e deixando atrás de si  um verdadeiro rastro de destruição. (leia em Time do speak up: a manifesto for economic sense).

Não importa. Para Kuper, ecoando o pior senso comum, a gestão europeia de Merkel é ótima – e a do futebol alemão também, porque este fez, como o governo alemão (na verdade começando pelo anterior, dos social-democratas e verdes), as “reformas” necessárias, isto é, adotou critérios empresariais (de “management”) de planejamento e gestão. (v. “Teams, like economies, need reform”, ainda não disponível para internautas não cadastrados até o fechamento deste post).

Numa penada paragráfica a antológica, dizia o autor: “Exatamente como desde 2000 a Alemanha se reorganizou, transformando-se no “workshop mundial” da Economia, ela voltou ao pódio do futebol – e através de métodos espetacularmente semelhantes”.

Que fez a Alemanha? Fez o seu “milagre”, reduzindo pensões e cortando salários para tornar-se competitiva. A exata lição das idéias que levaram aos desastres dos anos 30 e ao clima da Segunda Guerra, e que agora se alastram Europa afora e adentro.

Já no futebol, as reformas foram mais claras e menos equívocas (do meu ponto de vista): planejamento, obrigação dos clubes terem escolas de futebol, abertura para os descendentes de imigrantes, métodos novos de gestão dos potenciais futebolísticos, planejamento de exercícios físicos etc. O que isso tem a ver com as reformas neoliberais da economia? Para mim, nada. Para Kuper tudo. Isso definia o favoritismo alemão nos dois campos de jogo: o do futebol e o da economia.

E a conclusão do artigo era acachapante: “Em Gdansk, nas quartas de final, Angela Merkel, a chanceler, viu como seus rapazes ensinaram à Grécia lições no campo, tanto quanto ela fizera fora dele. Não é surpresa que ela esteja ensinando aos países do sul europeu como reestruturar suas economias. As lições germânicas compensaram”.

É, mas faltou combinar tudo isso com os italianos. Contra a Grécia, que tinha um time medíocre em campo, os rapazes de Löw (não de Merkel) mostraram fragilidades evidentes, sobretudo na defesa: o resultado não foi um passeio, mas 4 a 2, é bom não esquecer. Contra o time italiano, mais sagaz, estruturado e forte, não deu outra: o petardo de Balotelli, a 120 quilômetros por hora, definiu o jogo ainda no primeiro tempo, ao converter o segundo gol italiano. Nos dois gols, a “squadra azzurra” foi que “passeou” através da defesa alemã. Depois, no segundo tempo, teve mais chances ainda. Podia ter dado uma goleada no time com excesso de auto-confiança de Joachim Löw.

Enquanto isso, a 1.160 quilômetros dali, em Bruxelas, outro italiano, Mario Monti, dava um outro baile em Angela Merkel, com a ajuda de Mariano Rajoy e François Hollande – seus colegas de Espanha e França, respectivamente –, forçando-a a aceitar regras mais brandas nos planos recessivos que vêm sendo impostos junto com as “ajudas” financeiras, e a que o Banco Central Europeu possa financiar diretamente os bancos em dificuldade, além de aliviar os juros pagos pelos países naufragados ou adernados pela crise.

Foram estas as suas condições para aprovar o “pacote de crescimento” de 130 bilhões de euros acertados por ele, Rajoy e Hollande, com Merkel, uma semana antes, antecedendo a vitória alemã sobre os gregos.

Desta vez foi a Itália que deu um nó – além de lições dentro e fora do campo – ao excesso de otimismo germânico.