mar revolto

O coronavírus, a guerra das máscaras e o desgovernado barco dos mascarados

A pandemia atual está mostrando a fragilidade de estruturas que eram consideradas consistentes. Enquanto isso, um certo capitão semeia o caos

Gage Skidmore/WikiMedia Commons
Gage Skidmore/WikiMedia Commons
Trump disputa as primárias do partido Republico com a ex-governadora da Carolina do Sul, Nikki Haley

A pandemia do coronavírus provocou uma nova modalidade de conflito: “A Guerra das Máscaras”. Trata-se de uma nova modalidade de pirataria. O cenário não é mais o espaço dos Sete Mares, como no bom tempo. Seus agentes não são mais corsários a serviço de coroas europeias, ou freelancers, como no antigo Caribe e nem mesmo os piratas que agem no Oceano Índico, abrigados em países do leste africano. Nem se caça mais o ouro que singrava e sangrava da América para a Europa, por exemplo.

Os agentes desta pirataria atual são agentes financeiros, a serviço de países do Primeiro Mundo, que evidentemente negam qualquer participação nisto, a começar pelos Estados Unidos. Seu campo de ação são aeroportos. O que caçam? Produtos de proteção sanitária: ventiladores, vestimentas e máscaras hospitalares.

Como procedem? Abordam responsáveis pelos envios deste material – sobretudo da China – para destinatários que os encomendaram. Oferecem pagar três, quatro vezes o preço contratado, e em dinheiro vivo. “Irrecusável.”

As denúncias são muitas, e não se limitam aos aeroportos chineses. Quatrocentas mil máscaras encomendadas e pagas para a polícia alemã desapareceram em Bangkok, na Tailândia. Ventiladores que tinham por destino Salvador, na Bahia, ficaram retidos em Miami. Encomendas feitas a empresas chinesas pelo Canadá e pela França não chegaram a seu destino.

Os governos destes países apontam para os Estados Unidos. Trump nega. Uma dupla negação: nega participação no caso, mas também nega que ações deste tipo sejam “pirataria”. Alega que é necessário proteger os Estados Unidos. “Por que os chineses negociam com os outros?”, diz ele. “Por que não conosco? America first”, ele poderia acrescentar.

Há denúncias de que máscaras que iriam para a Itália foram desviadas na República Tcheca. O governo tcheco negou. Depois, declarou que houve “um engano”. Mas não esclareceu até agora o que foi feito das máscaras.

Há denúncias de que máscaras destinadas à Espanha e à Itália foram confiscadas na França.

A pandemia atual está mostrando a fragilidade de estruturas que eram consideradas consistentes. A União Europeia corre perigo. O acordo europeu de Schengen (alusão ao castelo onde ele foi assinado, em Luxemburgo), que garante o livre trânsito de cidadãos entre os países europeus signatários, na prática está suspenso de momento. Vai sobreviver? As regras de convivência internacional vão sobreviver?

Os Estados Unidos intensificam seu bloqueio a Cuba e à Venezuela. Pressionam países para que não aceitem ajuda sanitária cubana. Entretanto, países europeus a aceitam mais e mais. Entrementes, Ernesto Araújo e seu fake Itamaraty aplaudem a política externa norte-americana contra a Venezuela.

Na esteira aberta por Dudu Hambúrguer Frito, Weintraub – “cachinho de uva” em alemão – ataca levianamente a China, carregando em preconceitos culturais e racistas. Leva lições de moral da Embaixada Chinesa, como Dudu. Bolsonaro, que está sendo apelidado de “Rainha Louca”, faz estragos no combate ao vírus, promovendo insanidades, e demonstra cada vez mais que reina, mas não governa, porque tem seus poderes tolhidos e porque só o que faz é desgovernar o barco.

Diz uma teoria política moderna que a arte de governar consiste em semear o caos para depois administrá-lo. Bolsonaro aprimora o conceito: semeia o caos, mas não o administra. Ao contrário, põe a culpa nos outros enquanto pretende surfar nele para manter-se à tona, rumo a uma almejada ditadura.

Guedes não sabe o que fazer. Moro está escondido atrás de um silêncio obsequioso.

Ou seja, no Brasil a “Guerra das Máscaras” abre espaço para a “Guerra dos Mascarados”.