Obama pode suspender espionagem de dirigentes aliados. E o resto?

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Barack Obama vai colecionando insatisfações de dirigentes mundiais, com denúncias de espionagem

Enquanto o embaixador norte-americano em Madri era chamado pelo governo espanhol, para explicar uma nova denúncia de espionagem contra os EUA, corriam informes na mídia internacional de que o presidente Obama poderia ordenar a suspensão da espionagem contra dirigentes de “países aliados”.

As últimas denúncias, feitas pelo periódico espanhol El Mundo, diziam respeito a novos milhões de telefonemas e mensagens espionadas pela National Security Agency (NSA) naquele país num período recente de 30 dias.

As notícias sobre a possibilidade da suspensão aludem a dois relatórios – um preliminar e outro mais completo – que o presidente deve receber respectivamente no começo de novembro e em dezembro, sobre as atividades da NSA e os danos provocados à diplomacia e à imagem do governo norte-americano pelas próprias atividades e as denúncias relativas a elas.

Esta perspectiva coloca uma nova série de perguntas e dúvidas a seu respeito.

O que é um “país aliado”? Se no caso de França, Alemanha, Espanha, Grã-Bretanha e outros não há dúvidas de que assim venham a ser considerados, o que dizer, por exemplo, dos países do Oriente Médio?

Dirigentes da Rússia, China e outros poderão continuar a ser espionados? E abaixo do Rio Bravo – ou Rio Grande para os norte-americanos – como fica a situação? Será o Brasil um país suficientemente “aliado” para que a nossa presidenta saia da lista da espionagem?

De todo modo, o presidente Nicolás Maduro, da Venezuela, não será um destes “aliados”, apesar dos milhões de barris de petróleo que seu país vende continuamente para os Estados Unidos. Ora, isto significará, no mínimo, que as relações da nossa presidenta com o presidente venezuelano continuarão a ser espionadas. E agora, Joe?

Mas as perguntas não param aí. E o resto dos cidadãos? E o direito à privacidade?

Aliás, um dos diretores do serviço secreto norte-americano fez um comentário curioso. Disse ele que, se dirigentes como Angela Merkel continuavam a usar um telefone celular para conversas que deveriam ser confidenciais, a menor de suas preocupações deveria ser com a NSA.

Ele tem razão e não tem. A disponibilidade de violar a correspondência virtual e telefônica não é só da NSA, embora esta deva ter um potencial único no mundo para este fim. Também é verdade que mesmo entre aliados a espionagem campeia solta: o caso da França é o mais evidente.

Porém o fato é que a espionagem promovida pela NSA, além de violar direitos do cidadão comum, o que é grave do ponto de vista ético, expôs dirigentes aliados à uma humilhação internacional, o que é inadmissível do ponto de vista político.

Por isto, teve total razão nossa presidenta ao suspender a visita oficial que faria aos EUA em outubro. De todos os dirigentes atingidos, ela é a única, até o momento, que pode dizer em alto e bom som que devolveu, e por correio registrado, a humilhação e a desfeita da espionagem indevida.